Terminal Jardim América: um incentivo a mais

por Thaiana Gomes

Ludmila Gaspar poderia ter sido jogadora de basquete. Ela tem altura suficiente para estar dentro das quadras. Mas vocação não se discute! Tornou-se técnica em biblioteconomia e hoje trabalha na Biblioteca Transcol  de Jardim América desde a sua inauguração, em agosto de 2009. Filha de pais semi-analfabetos, diz que não foi incentivada a ler. Porém, tal fato não interveio em suas escolhas. A primeira escola que freqüentou não possuía um espaço de estímulo à leitura, conta. Mas seu interesse pelos livros não foi barrado por isso: ela começou a freqüentar as bibliotecas da Fafi e a municipal de Vitória.

De Machado de Assis a Shakespeare. Dos clássicos à ficção. Ludmila lia e lê de tudo.Hoje com 29 anos, tendo percorrido vários caminhos por entre as linhas de várias histórias, a “grande” Ludmila de sorriso tímido está onde quer e fazendo o que gosta. “Sempre almejei algo que me trouxesse felicidade, independentemente do dinheiro.”

Biblioteca Transcol

A técnica em biblioteconomia, que pretende fazer a graduação na área, é a responsável por cadastrar novos “descobridores do mundo”. A leitora mais assídua da biblioteca diz que ninguém é dono do conhecimento e que “quem lê vale por dois”. Nascida e criada no bairro Romão, em Vitória, desde pequena aprendeu a compartilhar. “Tenho dois sobrinhos e incentivá-los a ler e partilhar minhas leituras é algo que sempre faço”. Entre uma conversa e outra expõe alguns dos livros que mais gosta e destaca uma frase de Montesquieu: “Jamais sofri qualquer mágoa que uma hora de boa leitura não tenha curado”. É isso que Ludmila Gaspar passa para todos que freqüentam àquela biblioteca, o seu exemplo de vida e sua paixão pelos livros.

Editora: Any Cometti

Foto: Divulgação

Terminal Laranjeiras: “um laboratório vivo”

por Esther Ramos Radaelli

No centro do Terminal Laranjeiras um contêiner bem iluminado e refrigerado, todo decorado por adesivos coloridos, te leva para uma viagem além das linhas de ônibus convencionais. Essa é a Biblioteca Transcol do bairro de Laranjeiras, criada em 2007, a primeira do estado.

Biblioteca Transcol do T. Laranjeiras

Um ambiente não muito grande, mas que parece ainda menor pelo grande número de pessoas. São aproximadamente 5 mil cadastrados, sendo que por dia são mais de 150 livros emprestados. Durante aproximadamente uma hora dentro da biblioteca não houve um instante em que ela estivesse vazia. Por isso, se o Luiz, estagiário do projeto, não estivesse lá para ajudar, seria difícil conversar com Maurenice, responsável pelo espaço no turno da manhã.

Sayonara, Maurenice e Luiz: funcionários do Projeto

“Um laboratório vivo.” Assim o projeto foi definido por Maurenice Muricci, 39 anos. Mulher de sorrisos fáceis e com grande simpatia. Ela reconhece a maioria dos freqüentadores da biblioteca, chama-os pelo nome, pergunta por suas famílias. Trabalha nesse projeto há um ano e meio e acredita que as dimensões que a Biblioteca Transcol alcançou hoje “foram mais do que a expectativa.”

O Luiz Henrique de Oliveira Placides, estagiário, tem 22 anos e também dá provas de que esse laboratório tem muito a ensinar. Depois de seis meses de trabalho, diz que sua cabeça está mais aberta; antes passava pelos terminais alheio a relação das pessoas com a leitura, sempre ouvindo música. Agora se dá conta de como os livros da Biblioteca Transcol estão em todos os cantos, ou melhor, ônibus, levando a leitura a um público que agora não precisa se esforçar para encontrar uma boa história.

Lorrany e Maria Regina

Maria Regina, 17 anos e Lorrany Nunes, 18 anos, são um exemplo disso. Estudam no Aristóbulo, escola pública não muito longe do terminal. Lorrany levou Maria Regina para se cadastrar no projeto e ambas são freqüentadoras assíduas.

Estudantes, trocadores, motoristas, crianças, jovens, adultos. A Biblioteca Transcol de Laranjeiras é um retalho de personagens fictícios e reais. E o melhor? Está há poucos passos do seu ônibus.

 

Fotografia e edição: Any Cometti

Terminal Itacibá: os livros estão por toda parte

por Maíra Mendonça Cabral

Se as pessoas não vão até os livros, os livros vão até as pessoas. É com esta frase que Cleilson Freitas, de 25 anos, atendente da Biblioteca Transcol de Itacibá, resume o principal intuito desse projeto.

Todos os dias passam pelo terminal centenas de pessoas, umas apressadas para escola ou para o trabalho, outras caminham devagar na espera de seu ônibus, hora para passear, hora pra voltar para suas casas. O início da manhã e o fim da tarde são os horários de maior movimento. São nesses momentos, que o pequeno Terminal de Itacibá, Cariacica, se transforma em um fervilhão de gente. É difícil imaginar que lá possa existir um lugar tranqüilo, onde todos podem compartilhar da calmaria em companhia de livros.

Bem vindos à Biblioteca Transcol do Terminal de Itacibá, em Cariacica.

Mas existe sim. E lá está, ao lado da lanchonete com caldo-de-cana, pertinho dos camelôs. A banca de livros da Biblioteca Transcol chega a emprestar de 40 a 50 livros por dia. Como afirma Cleilson, por lá passam crianças, idosos, adolescentes, estudantes e vendedores ambulantes. Todos à espera de uma oportunidade para se aproximar do mundo da leitura, que muitas vezes lhes é negada pela falta de recursos ou pela falta de tempo.

Foi graças às Bibliotecas Transcol que essa espera chegou ao fim. Contando com um acervo de quase 800 obras, a livraria é responsável por levar cultura e informação aos públicos mais diversos. Agora os livros passaram a fazer parte do cotidiano dessas pessoas, que finalmente ganharam o direito de viajar, se entreter e aprender junto às inúmeras páginas folheadas.

Até o fim do ano, a Biblioteca Transcol de Itacibá, conforme afirma Daniella do Couto Baroni Nascimento, 25 anos, gerente do projeto, adotará o sistema de containers. Esse novo módulo permitirá um maior espaço para a interação entre os livros e os leitores, além de possibilitar o aceso á internet .

Fotografia: Maíra Mendonça Cabral

Edição: Any Cometti

Terminal Ibes: palavras fundamentais

por Izabelly Possatto

Ecnaton e Ricardo na Biblioteca

Gente. É o que circula nos terminais da grande Vitória, especialmente no Ibes, inaugurado dia 8 de março de 1991. São justamente essas pessoas que fazem cidadania e isso é matéria. Reportagens são constituídas, além das notícias, de personagens. A personificação faz parte e contar a história deles ao invés de outra narrada por eles também é pauta.

“Ler é … fundamental”. Essa foi a frase que Ecnaton Jaguarassu da Silva, 29 anos, completou ao ser indagado sobre a leitura. Pode parecer clichê, mas ele garante que não é, pois afirma que através da leitura há uma abrangência maior do conhecimento. Novos lugares, sensações, experiências; tudo é vivenciado e descoberto ao decorrer das linhas de um livro. O aspecto brincalhão e o permanente sorriso fazem parte da vida e da profissão não tão comum atualmente, mas sempre presente e necessária em meio à desordem que é o cotidiano; Ecnaton é palhaço e circula nas linhas de ônibus para alegrar a viagem dos passageiros.

De engraçada mesmo só a carreira porque cita O conde de Monte Cristo como livro marcante em sua história. A obra é da literatura francesa, escrita por Alexandre Dumas, e frequentemente desponta nas listas das mais vendidas. O romance, assim como a poesia, são os gêneros literários citados por Ecnaton como seus preferidos.

Gessi Nery, participante há 3 meses

A longa espera nos terminais e a demora nas viagens é aliviada com a presença de um livro em mãos; ler ou escolher o objeto é uma forma de “passar o tempo”. Gessi Nery, vendedora autônoma, 54 anos, é usuária da Biblioteca Transcol há três meses e durante esse tempo relata ter tornado-se uma leitora assídua. Basta terminar um livro e devolvê-lo para escolher o próximo. São livros comuns, best-sellers, ficção e não ficção, não há um gosto padrão para Gessi, cujo próximo desafio é Fortaleza Digital, de Dan Brown, recém locado.

Ricardo Salvalaio tem 24 anos e há três trabalha nas bibliotecas espalhadas por sete terminais da grande Vitória. Ele é considerado um auxiliar de bibliotecário e auxilia pessoas na escolha de livros, incentivando-as a permanecerem com o hábito da leitura.

A Biblioteca do Terminal Ibes

A biblioteca do terminal do Ibes encontra-se próxima à entrada, chamando a atenção por ser como uma grande caixa aberta e que, de certo modo, lembra um livro. Repleta de bons volumes, Ricardo comenta que os best-sellers são os mais procurados juntamente de escritores como Luís Fernando Veríssimo. Ele diz que não há como reservar a obra, mas caso tenha interesse o leitor é informado do dia da devolução do exemplar, de forma que possa tentar buscar o título do interesse.

Cerca de 45 pessoas por dia passam por ali realizando empréstimos e devoluções, fora outras que, curiosas, passam, observam, porém não escolhem nada. São crianças, jovens e adultos, de faixa etária dos 8 aos 80 anos no cadastro dessa biblioteca que, apesar de pequena, “abriga um mundo” de conhecimento.

 

Fotografia: Izabelly Possatto

Edição: Any Cometti

Cultura e Informação ao Alcance de Todos

por Maíra Mendonça Cabral

A ONG Universidade para Todos surgiu em 2003 com a finalidade de expandir o projeto Universidade para Todos, criado em 1996 por alunos do Centro Acadêmico de administração da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Desde então, através de parcerias com empresas públicas e privadas, a ONG trabalha na realização de projetos de auxílio à população, como o Programa Universidade para Todos* (Pupt), Programa Jovens Valores*, Programa Rede Cultura Jovem* e o Biblioteca Móvel*, além do Sistema de Bibliotecas Transcol.

No dia 15 de Agosto de 2007 surgiu a primeira Biblioteca Transcol, situada no terminal de Laranjeiras, Serra. Inicialmente, a pequena biblioteca contava com cerca de 300 livros e hoje, já possui uma média de 1300 exemplares.

O sistema de Bibliotecas Transcol é resultado de uma parceria entre a ONG Universidade para Todos, a Ceturb e o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas, que conta com o patrocínio da Arcelor Mital Tubarão. Ele é uma adaptação de projetos já existentes em outras regiões do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo, onde livros são emprestados à população nos metrôs da cidade. Este programa consiste no empréstimo de livros através de bibliotecas instaladas nos terminais da Grande Vitória, com o objetivo de levar cultura e informação para as diversas camadas sociais.

 

Jeanssen Cunha, assistente de gerência e Pauliana Luiza, biblitecária da Transcol, ao lado dos novos livros que serão entregues as bibliotecas.

 

Três anos após sua fundação, o Sistema de Bibliotecas Transcol posssui um acervo de mais de 10.000 livros disponíveis em bibliotecas situadas em seis, dos dez terminais rodoviários existentes na Grande Vitória. São eles: Terminal de Itacibá, Campo Grande, Jardim América, Ibes, São Torquato e Laranjeiras. Já na próxima semana será inaugurada a biblioteca do terminal de Itaparica. Algumas das bibliotecas existentes, como a de Laranjeiras, Jardim América e São Torquato foram otimizadas e substituíram o antigo formato de bancas por containers. Esse novo módulo é maior e disponibiliza, inclusive, o acesso à internet.

Um livro pode custar muito caro. E é por isso que muitas vezes o acesso à informação é restrito àqueles que possuem melhores condições financeiras. Segundo a gerente da Biblioteca Transcol, Daniella do Couto Baroni Nascimento, de 25 anos, “Não é que as pessoas não gostem de ler, eles simplesmente não tem acesso”. Graças à grande receptividade da população e à consolidação de parcerias fortes, essas “livrarias dos terminais” conseguem contribuir com a formação cultural de diversas pessoas, que vão de crianças a idosos, passando por estudantes e donas de casa.

Pauliane Luiza, de 31 anos, bibliotecária do projeto e Jeanssen Cunha, de 23anos, assistente de gerência, são os responsáveis pela escolha e preparação dos livros que serão disponibilizados nos terminais. Eles contam que as compras são feitas de acordo com a demanda exigida pelos leitores. E os livros são bem diversificados. São obras de literatura, história, biografias, crônicas, contos, ciências sociais, religião, psicologia, juvenil e infantil, entre tantos outros. Após a seleção e a compra, todos os livros são catalogados, encapados e levados às bibliotecas.

Este projeto já possui 20.799 associados e o número de empréstimos realizados já passou dos 120.000. No dia 14 de Agosto de 2010, os leitores se reuniram para prestigiar o evento realizado pela Biblioteca Transcol, no Centro de Convenções de Vitória. Por lá, passaram os escritores Zuenir Ventura, Hélio de La Peña e o capixaba Roberto dos Santos Neves. Alguns leitores mais antigos também foram homenageados.

A dimensão tomada por esse projeto é mais uma prova de que o conhecimento precisa e pode ser levado a todos, independente de sua idade, formação escolar ou classe social. Não se trata apenas de um programa de incentivo a leitura, mas sim de um novo meio para a democratização da cultura e da informação, a fim de promover maior inclusão social.

Como cadastrar-se:

Para cadastra-se é preciso levar carteira de identidade, CPF, uma foto 3×4 (exceto na biblioteca de Laranjeiras, onde as fotos são tiradas pela webcan) e comprovante de residência próprio, dos pais ou do conjugue. Após o preenchimento da ficha cadastral, o leitor recebe uma carteirinha, que poderá ser utilizada em qualquer Biblioteca Transcol. O livro é locado por dez dias e o empréstimo pode ser renovado por mais uma vez.

*Programa Universidade Para todos – Programa de preparação para o vestibular para alunos da rede pública, com renda familiar inferior a quatro salários mínimos.

*Programa Jovens Valores – Pretende facilitar a inserção de estudantes de nível médio, superior e técnico no mercado de trabalho, por meio da realização de estágios acompanhados em diversos órgãos, atarquias e fundações do Estado.

* Programa Rede Cultura Jovem – Desenvolve ações de conexões virtuais e presenciais para potencializar as manifestações artístico-culturais da juventude do Espírito Santo.

*Biblioteca Móvel – O Projeto Biblioteca Móvel é parte do programa “Leia, Espírito Santo, da Secretaria de Educação (Sedu) e do Sistema Estadual de Bibliotecas públicas (Secult) em parceria com a ONG Universidade para Todos. Ele consiste em um veículo equipado para levar livros a cada quinze dias a oito bairros da Grande Vitória: Bandeirantes, Santa Rita, Terra Vermelha, Itararé, Vila Nova de Colares, Planalto Serrano, Nova Rosa da Penha e Central Carapina. Este programa funciona desde março de 2008 e possui 1.900 associados, tendo realizado mais de 21.000 empréstimos. Para cadastrar-se é só levar a identidade e o comprovante de residência.

 

ONG Universidade para Todos:

Avenida Desembargador Demerval Lyrio; Número 281; terceiro andar;

Mata da Praia, Vitória, E.S

CEP: 29065-340

Telefone: (27) 3324-5002/ (27) 3225-2809

Edição: Any Cometti

Fotografia: Maíra Mendonça Cabral