Trabalhando a cidadania

por Any Cometti

Maria Luziene, coordenadora do Cesam, e alunas do Centro

A *Lei nº 10097 de 19 de dezembro de 2000 regulamenta a profissão do Menor Aprendiz e define que toda empresa que conte com mais de sete colaboradores deve empregar adolescentes em seu quadro de trabalho.

Há 13 anos, o CESAM – Centro Salesiano do Adolescente Trabalhador – orienta e capacita jovens capixabas em situação de risco social para sua inserção no mercado de trabalho. Com a aprovação da Lei, a demanda por Aprendizes cresceu. Nesse meio tempo o projeto se expandiu e se tornou referência para os jovens que buscam seu primeiro emprego. Uma equipe formada por professores, pedagogos, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais acompanha o jovem em seu ambiente profissional, escolar e familiar como forma de ajuda-lo a traçar um projeto de vida e de auxiliar sua formação humana. O amadurecimento psicológico e profissional, segundo o professor de Administração Reinaldo Tadeu, é uma das evoluções mais nítidas que se nota no aluno no período em que ele participa do Cesam. “Eles chegam despreparados para a vida profissional. Ao longo do convívio, nota-se uma grande evolução na postura, na fala, e na questão do relacionamento”.

Uma das principais barreiras a serem quebradas é o pensamento de que o projeto funciona como uma escola regular, o que, segundo Francisco de Alencar, pedagogo, não procede. No Cesam, os adolescentes têm, sim, aulas de português e matemática. Mas há um direcionamento maior para a formação humana e cidadã, por meio de aulas de ética, sustentabilidade, cidadania e também pela prática de esportes, tais como vôlei, basquete, futebol, capoeira e ginástica olímpica. “Não há o objetivo de suprir a carência da escola comum, mas sim de trabalhar de uma forma lúdica”.

Essa forma de educação tem rendido sucesso e muita satisfação por parte dos adolescentes que, hoje, chegam a 1700 só no município de Vitória. Taisa Lima Santos, de 16 anos, confessa que entrou pelo salário pago pelas empresas contratantes, mas teve acesso a muitos outros benefícios. Devido às aulas preparatórias, deixou de ter dificuldades em matemática, passou a gostar dessa matéria e elogia a formação ética proporcionada pelo Centro. “Hoje sei no que quero trabalhar, sei o que quero ser”. Ayline Lima Fávila, 16 anos, que também entrou pelo retorno financeiro, tem como melhores resultados de sua participação as amizades formadas e o conhecimento adquirido. “Pretendo continuar estudando, cada vez mais”. Ambas terminaram nessa sexta-feira (8) o curso preparatório para a função de auxiliar administrativo e, posteriormente, iniciarão em suas profissões.

Já Lucas Loureiro Oliveira, 17, e Mário Pinheiro Gonçalves, 18 anos, trabalham como aprendizes e declararam que adquirir responsabilidades é uma das melhores formas de amadurecer no projeto. O professor Rodrigo Rodrigues diz que a maioria dos jovens se empolga com o emprego e gosta de identificar, na prática, aquilo que é visto em sala de aula. “Temos muitas teorias e apresentamos muitas partes práticas nas aulas, para apresentar a realidade do mercado de trabalho”.

Alunos aprendem informática no laboratório do projeto

O Cesam disponibiliza capacitações para três funções: auxiliar de serviços bancários, auxiliar administrativo e auxiliar de serviços médico-hospitalares. A orientação e o estágio são feitos em período contrário ao turno da escola regular em que o adolescente está matriculado. O jovem pode escolher duas opções para a capacitação: uma que dura dois meses e é feita antes do início do emprego formal e outra que o segue paralelamente – o adolescente recebe orientação em três dias da semana; nos outros dois, trabalha. O primeiro dia de orientação do adolescente é também seu primeiro dia de funcionário com carteira assinada, mesmo que ainda não exerça sua função, e ele trabalha, preferencialmente, em seu município de origem. Além de Vitória, o projeto possui unidades nos municípios de Cachoeiro de Itapemirim, Colatina, Linhares e São Mateus.

Em dezembro, serão abertas novas turmas no Cesam. Os interessados devem inscrever-se pelo site do projeto (http://www.salevitoria.com.br/cesam/) . Para ingressar, devem estar cursando pelo menos o oitavo ano do ensino fundamental (antiga sétima série), ter entre 14 e 18 anos, renda familiar de, no máximo, meio salário mínimo per capta e estudar em escola pública (ou em particular com bolsa de 100%). A avaliação para ingresso é feita por meio de uma prova básica a nível de oitavo ano de português e matemática. Maria Luziene Teubner Genelhu, coordenadora do projeto, aconselha: “Preparem-se. Às vezes os jovens não estão preparados para a prova e, mesmo que passem, não têm um desempenho satisfatório na empresa”.

E nesses 13 anos de projeto, o Cesam interviu positivamente na vida de muitas pessoas. Geanne Marques Soares esteve no projeto entre os anos de 1996 e 2000 e hoje segue na área administrativa, a mesma em que recebeu orientações em sua época de estudante. “Na época, aprendi a lidar com as pessoas. Dentre tantas lições, aprendi a ter amor ao próximo, trata-lo com carinho, e ter gratidão pelo que fazem pela gente”.

• A Lei nº 10097 de 19 de dezembro de 2000 define contrato de Aprendizagem como “o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de quatorze e menor de dezoito anos, inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa formação”. Toda empresa que conte com mais de 7 colaboradores deve ter de 5 a 15% de seu quadro de funcionários formado por Aprendizes. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L10097.htm)

 

CESAM – Centro Salesiano do Adolescente Trabalhador

Av. Vitória, 900

Forte São João, Vitória, ES

CEP: 29017-022

Telefone: 3205-8601 / 3205-8607

e-mail: cesam@salesiano.com.br

site: http://www.salevitoria.com.br/cesam/

Fotografia: Any Cometti

Editoração: Maíra Mendonça

Viva a melhor idade!

por Izabelly Possatto

Idosos recebem carinho de profissionais de várias áreas

Com o objetivo de assistir aos idosos, acolhendo-os devidamente e proporcionando uma melhor qualidade de vida, a Fundação de Assistência e Amparo à Velhice foi criada em 1992 por um grupo de pessoas interessadas unicamente na solidariedade. A instituição, que durante anos contou com algumas casas alugadas para servir como base, mas que por isso também restringia o serviço do voluntariado, hoje tem sede própria. Por essa conquista obteve a documentação necessária para atender como casa-dia, a primeira do estado. Na rua Mário Veloso em Itapoã, Vila Velha, uma verde casa destaca-se entre as demais; é a FAAVE.

O espaço

A casa-dia difere-se da casa lar por acolher os idosos unicamente no período diário, sem que estes durmam no local. São cidadãos da melhor idade e de baixa-renda que interagem uns com os outros das 8h às 17h em diversas atividades de entretenimento e recreação, recebendo todo carinho e atenção que merecem. Em um amplo espaço, que pode abrigar até 20 pessoas, funcionários e voluntários, sempre com um sorriso no rosto, valorizam esse grupo. Eles recebem cinco refeições ao longo do dia, com o cardápio sempre cuidadosamente elaborado por uma nutricionista; atividades de socialização além de acompanhamento terapêutico, nos dias úteis, visando melhoria da qualidade de vida dos beneficiados da melhor idade.

A FAAVE é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos e não governamental que tem como base o trabalho voluntariado, sempre muito bem-vindo e alguns poucos contratados necessários para atender a demanda dos serviços.

Doações recebidas recentemente na casa

Maria Elisa Pereira Grillo, 57 anos, uma das voluntárias, ressalta que para ser beneficiado é preciso ter acima de 60 anos e receber até dois salários mínimos. Comprovação de renda (como cópia da carteira do SUS), identidade, atestado médico com receituário e a atualização dos exames são os documentos exigidos para ser um dos atendidos. Além dessa assistência o projeto realiza ainda a distribuição de cestas básicas para cerca de 30 famílias carentes e visitação a idosos acamados que não podem ser incluídos no programa da casa-dia.

Delma Patrocínio de Jesus, 53 anos, conta que grande parte dos idosos é a fonte de sustento da família, por isso, essa é outra proposta da casa-dia: entreter e cuidar dessas pessoas, de forma que a família possa nesse tempo trabalhar e conseguir melhorar a renda.

A FAAVE abre os braços a todos que quiserem doar o seu trabalho à entidade, necessitando de fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, nutricionista, pedagogo, assistente social, psicólogo e outros mais que, segundo a farmacêutica Fernanda de Oliovgeira, serão de grande valia. Outras contribuições e doações, esporádicas ou mensais, podem ser feitas para auxiliar a manutenção e funcionamento da entidade que, apesar das despesas, não cobra nada dos idosos assistidos.

Transparência

Por estar regulamentada e prestar contas à Vigilância Sanitária e ao Ministério Público a diretoria e os funcionários declaram todo funcionamento da casa, que possui, inclusive, um Estatuto Social com regras, direitos e deveres dos trabalhadores e beneficiados.

Não havia uma época melhor para a sede recém-inaugurada: dia 1º de outubro foi comemorado o dia do idoso.

Visite a FAAVE, conheça o belo trabalho desses heróis voluntários e seja um deles também.

 

Fundação de Assistência e Amparo à Velhice – FAAVE

Endereço: Rua Mário de Almeida, 50

Bairro Itapoã, Vila Velha – ES

Telefone: 3329-9414

Site: www.faave.com.br

 

Fotografia: Izabelly Possatto

Editora: Any Cometti

Amor e dedicação a serviço da vida

por Maíra Mendonça Cabral

O que é o câncer?

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.

Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tumor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um risco de vida.

Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Por exemplo, existem diversos tipos de câncer de pele porque a pele é formada de mais de um tipo de célula. Se o câncer tem início em tecidos epiteliais como pele ou mucosas ele é denominado carcinoma. Se começa em tecidos conjuntivos como osso, músculo ou cartilagem é chamado de sarcoma.

Outras características que diferenciam os diversos tipos de câncer entre si são a velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes (metástases).

Fonte: http://www.inca.gov.br

Amor e dedicação a serviço da vida

Ajudar a melhorar a qualidade de vida de pessoas que sofrem com o câncer. Essa é a principal meta do GAPC – Grupo de Apoio a Pessoas com Câncer. Esta organização não governamental surgiu em 22 de Fevereiro de 2005 a partir da iniciativa de familiares e amigos de portadores dessa doença.

Atualmente, o GAPC atende a 1237 pacientes acima de 18 anos, dos quais 890 participam ativamente do projeto. O tratamento realizado na instituição é de cunho biopsicossocial. Ele visa promover maior saúde física para os portadores de câncer ao mesmo tempo em que procura reinseri-los na sociedade, da qual muitas vezes são excluídos por preconceito ou por falta de informação em relação à doença.

À esquerda, Priscila, a assistente social e à direita, Andréia, a secretária do GAPC.

Um dos diferenciais do GAPC é a forma de lidar com seus pacientes. Lá não existem pessoas internadas e só se fala sobre a doença em momentos realmente necessários, como quando o paciente é fumante ou alimenta-se mal. Para  os voluntários, o apoio  psicológico e a  aproximação afetiva  com os frequentadores  do local são  fundamentais. Essas  atitudes são  responsáveis por  eliminar os quadros  depressivos em que eles se encontram e permite-lhes uma maior aceitação de seus problemas, impulsionando-os a lutar contra a doença. Segundo Andréia de Oliveira Pinheiro, 27, secretária do projeto “Os pacientes procuram o conforto, o carinho e o apoio que muitas vezes não encontram em suas próprias casas. Por isso devemos estar sempre de peito aberto para recebê-los”.

O GAPC realiza reuniões, terapias de grupo e tardes de cinema com os portadores de câncer, além de promover oficinas terapêuticas de confecção de bijuterias, biscuits e de pintura em tecido. É durante as terapias de grupo que os pacientes sentem-se a vontade para falar de seus problemas cotidianos e trocar experiências, adquirindo assim, maiores informações sobre o modo como lidar com o câncer. São oferecidas também sessões de reiki, uma técnica de relaxamento baseada na canalização da energia universal através da imposição das mãos, com o objetivo de restabelecer o equilíbrio natural dos indivíduos.

Para realizar tudo isso, o Grupo de Apoio a Pessoas com Câncer conta com a ajuda de sete funcionários que prestam auxílio psicológico, fonoaldiológico e nutricional. Priscila do Reis Vasconcelos, 28 anos, é assistente social do projeto há quatro anos e afirma que é preciso ser forte e estar preparado para lidar com tantos momentos de tristeza e dificuldade. Entretanto, é impossível não se envolver com as histórias de cada um. “Eu amo isso aqui. Para mim é uma realização pessoal e profissional”.


Biscuits confeccionados pelos portadores de câncer durante as oficinas terapêuticas.

Implantação de novos projetos

A partir de Outubro de 2010, o GAPC prevê a implantação de dois novos projetos. O primeiro destina-se ao tratamento psicológico de crianças, filhos(as) de pacientes com câncer. Já o segundo atenderá a mulheres mastectomizadas, ou seja, aquelas que sofreram perda parcial ou total da mama devido à retirada do nódulo maligno. Esse apoio busca elevar a auto-estima dessas mulheres e ajudá-las a seguir e frente com suas vidas.

Ajudar nunca é demais

Além do trabalho de apoio psicológico aos portadores de câncer e seus familiares, o GAPC presta um auxílio material a essas pessoas, que na maioria das vezes não possuem renda familiar e muito menos condições para arcar financeiramente com os caros tratamentos.

Materiais destinados à doação para os pacientes atendidos no GAPC.

São fornecidas cestas básicas (que já atendem a 296 famílias), suplementos alimentares, leite, fraldas e absorventes geriátricos, colchões “casca de ovo”, medicamentos e exames clínicos. O projeto sobrevive apenas através de doações de pessoas físicas. Os produtos artesanais produzidos pelos pacientes são vendidos e o dinheiro arrecadado é destinado à compra de mais materiais.

Entretanto, ajudar nunca é demais. Para atender às necessidades de todos os que buscam ajuda na instituição e exercer um trabalho de qualidade é preciso que haja cada vez mais colaboradores. As doações podem ser feitas na própria sede do GAPC ou por meio de telemarketing.

Horários das oficinas

Reuniões e Palestras – Ocorrem mensalmente durante a última quinta-feira do mês, às 9h.

Terapias de Grupo – Ocorrem semanalmente, todas às segundas-feiras, às 14h.

Tardes de cinema – Ocorrem quinzenalmente às quartas-feiras, às 14h

Confecção de Bijuterias – Todas as quartas-feiras, às 14h

Pintura em tecido – Todas as quintas-feiras, às 14h

Confecção de Biscuits – Todas as sextas-feiras, às 14h

GAPC – Grupo de Apoio a Pessoas com Câncer

Avenida Marechal Campos, 1033, Santos Dumont, Vitória – E.S

Telefone de contato: 3233-4831

Site: http://www.gapc.org.com

Fotografia: Thaiana Gomes

Edição: Thaiana Gomes

Lar doce lar

por Thaiana Gomes

Com o intuito de acolher crianças e adolescentes em risco social, nasceu há nove anos a Casa Lar. Um espaço onde são atendidos meninos entre 12 e 17 anos com poucas chances de reinserção em suas famílias. O local mantém esses jovens fora das ruas e lhes assegura educação e o senso de responsabilidade, sejam elas com a própria casa ou com seus estudos.  Esta instituição é uma parte de um projeto maior o “Viva a Vida”. Tal projeto abrange cinco espaços de acolhimento institucional.

O começo

A criação da Casa Lar foi uma iniciativa de dona Eunice Soares de Oliveira, mais conhecida como “Tia Nicinha”, coordenadora da instituição, e do seu marido Luiz Nunes de Oliveira, 62 anos. O casal já morava na casa, imóvel de padres pavonianos, no bairro de Bela Vista, Vitória.

Interessada na causa social dona Eunice, juntamente com o apoio dos pavonianos, transformaram a casa comum em que reside até hoje, em uma casa abrigo. No início não foi fácil.  Tia Nicinha conta que, lidar com 12 crianças e adolescentes era complicado.

Hoje com 12 meninos ainda, a Mãe Social do projeto, diz que a Casa é o seu maior orgulho. Mãe de três filhos, conta receber o total apoio deles. Todos ajudam e participam da Casa Lar. Mãe de mais 12 revela sentir imensa felicidade ao ver seus “filhos” bem encaminhados. “Dois fazem estágio, um faz natação, outros três participam do Cajun. Não me vejo mais sem eles.”

"Casa Lar"

A instituição é administrada pela Fundação Fé e Alegria, com recursos da Prefeitura de Vitória e de doações. Esta mesma fundação gere os outros cinco espaços de acolhimento e coordena o projeto “Viva a Vida”.

A Casa

A Casa Lar possui uma estrutura física grande. São seis quartos, cada um com uma suíte. Uma cozinha, um espaço para as aulas de reforço, sala ampla com as paredes coloridas, uma estante cheia de livros e uma televisão, a melhor parte da Casa para Vanilson Soares de Oliveira, 14 anos. O aspirante a jogador de futebol está na instituição há três anos e diz que antes de entrar na casa ficava muito tempo na rua. Fato comum entre a maioria dos meninos.

Em cada quarto da casa dormem dois garotos, eles que ajudam na limpeza e organização do local. Cada um é responsável por arrumar seu quarto, seu guarda- roupa, sempre com a ajuda de uma das educadoras. Elas levam as crianças mais novas à escola, auxiliam na preparação do café, além de oferecerem aulas de reforço escolar.

As refeições da casa são preparadas pelas mãos habilidosas e sempre elogiadas de dona Maria Odete, 48 anos. “Alimentando” o projeto há seis anos, dona Maria conta que no começo os meninos chegam assustados, mas com o tempo se habituam. “Eles me tratam bem, são muito educados e atenciosos. Fico contente com a consideração que eles têm comigo”, afirma dona Odete com um sorriso sincero, enquanto lava a roupa dos meninos, “ é muita roupa…”

Thiago da Silva, 17 anos, está no abrigo há quatro anos e fala do convívio com os outros meninos. Diz que as tarefas são sempre divididas, mas como em toda casa de família, alguém sempre acaba reclamando que faz mais ou que o outro fez menos. Thiago é o mais velho de todos e serve de exemplo para os mais jovens. O adolescente cursa o ensino médio e começou a fazer curso de eletricista. Para ele, a casa foi um grande incentivo aos estudos.

Uma grande família

Janete, uma das educadoras da "Casa Lar"

“Eu me envolvo demais com eles”. Tamanho envolvimento faz Janete compartilhar sua vida profissional com a própria família. A educadora diz que leva os meninos para sua casa, “eles convivem com meus filhos”. O carinho entre as “Mães” da casa- Janete, dona Maria e Tia Nicinha-, e os meninos é recíproco. Entre uma palavra e outra com a entrevistadora, beijos e abraços se tornaram recorrentes entre Janete e os meninos, que se aproximavam curiosos. Nos aniversários sempre fazem festa, as refeições são feitas com todos à mesa sempre que possível, e eles vão à igreja aos domingos. A Casa Lar mantém a rotina de uma casa normal, tentando oferecer aos meninos uma verdadeira família.

Ter consciência de suas próprias atitudes, agir de forma cooperativa com os demais membros da casa, ser responsável e aceitar os limites, esse é o papel dos 12 meninos acolhidos pela Casa e pelas “mães” da instituição.

Não há duvida que quando se trabalha na melhoria da situação desses jovens, dando-lhes a oportunidade de um futuro melhor, estamos melhorando não só a vida deles, como também da sociedade. Sendo assim, é indiscutível a importância desse abrigo, pois segundo dados do IBGE* apenas 24% das cidades brasileiras possuem esse tipo de assistência.

*http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/05/ibge-divulga-dados-sobre-assistencia-social-no-brasil.html

* Pavonianos: Congregação Religiosa dos Filhos de Maria Imaculada fundada em 1847, inspirada no trabalho do Padre Ludovico Pavoni, religioso nascido em Bréscia e beatificado em 14 de abril de 2002.

Casa Lar

Endereço: Rua João Soares, 287, Bela Vista.

Telefone: (27) 3322-3728

Foto: Maíra Mendonça

Edição: Esther Ramos Radaelli

Nos passos do Futuro

por Izabelly Possatto

Faxada do Cajun Solon Borges

Um projeto que acolhe crianças e adolescentes após o horário escolar com o intuito de transmitir mais conhecimento e preencher o tempo livre dessas pessoas. Esse é o Cajun, que possui ao todo 15 unidades espalhadas por Vitória. Surgiu promovendo a socialização dos atendidos e propagando a pacificação em bairros que possuem comunidades carentes. Atende a faixa-etária dos 7 aos 17 anos de segunda a quinta em diversos bairros. Para auxiliar no aprendizado dos jovens há professores, coordenadores e assistentes sociais que desenvolvem os trabalhos.

“Caminhando Juntos” foi o nome escolhido para esta instituição, que é um amplo espaço de aprendizado para aqueles que a freqüentam. Criado em 1995, era desenvolvido em apenas um bairro, em um espaço físico cedido pela prefeitura municipal, mas logo ganhou grandes dimensões. Hoje o projeto recebe, além dos estudantes dos bairros que o sediam, comunidades adjacentes que também são beneficiadas por essa iniciativa municipal.

 Entendendo o projeto

 De segunda a quinta os jovens se reúnem em dois turnos, matutino e vespertino, para que a participação nas aulas extras não influencie de forma negativa a carga da escola regular. Eles escolhem de uma a quatro oficinas, em que exercerão o esporte, dança ou arte, coordenados por profissionais qualificados contratados pela prefeitura.

Um desses professores é Rogério Alves Marques, de 46 anos, técnico de vôlei campeão brasileiro e estadual com o time adulto do Flamengo do Rio de Janeiro e há um ano e meio no projeto. Morando em Vitória agora, relata que inicialmente trabalhou na secretaria de esportes do município e ao transferir-se para o Cajun houve um choque inicial, mas de forma positiva. Por causa da organização e planejamento de todos que trabalham na instituição, precisou voltar a estudar para adquirir um maior conhecimento e assim conseguir despertar o interesse dos jovens. Ele frisa a importância de resgatar os valores da sociedade através do lúdico e das brincadeiras ensinadas nas aulas.

Rogério primeiramente teoriza cada fundamento esportivo para então aliar a prática, proporcionando um conhecimento maior desse universo. No caso de um interesse em determinada área, afirma que existem projetos da prefeitura especializados para o desenvolvimento daquele esporte específico.

Detalhe da arte no muro do espaço físico do projeto

As sextas-feiras não existem oficinas, porém é dia normal de expediente. Reserva-se a agenda para planejamento geral e avaliação da semana e, se preciso, conversa-se sobre algum aluno. O Caminhando Juntos também oferece palestras para maior acompanhamento dos participantes. Dentre os temas destaca-se a noção de cidadania e discussões a respeito da pedofilia.

Feliciano Monteiro, coordenador do projeto em Solon Borges, afirma que durante o projeto é possível acompanhar mudanças nos participantes. Muitos saem empregados ou estagiários de diferentes empresas, outros aprendem a socializar-se, há uma completa transformação. E isso só é possível em parte porque não há espera para ser beneficiado. Basta entrar em contato com a secretaria e apresentar os documentos exigidos para ter a matrícula efetivada. Comprovante de residência, renda familiar e matrícula escolar da criança. Para aqueles que não possuem o último requisito o Cajun também auxilia realizando um encaminhamento a escolas da rede pública de ensino.

 

Dificuldades

 Como toda matéria esta também teve seus momentos difíceis. Destaca-se aqui a impossibilidade de diversos relatos por parte dos profissionais que trabalham no Cajun. Há uma enorme burocracia envolvendo o Caminhando Juntos e após alguma insistência conseguimos o telefone da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS). Entretanto, ao ligar para obter respostas a pessoa responsável pelo projeto nunca está disponível para conceder maiores informações. Resta a aqueles que têm dúvidas ou desejam algum tipo de esclarecimento fazer plantão na porta de uma das 15 unidades e tentar maiores informações com a saída dos funcionários. De acordo com o coordenador de Solon Borges, isso ocorre devido ao envolvimento da prefeitura que, por fornecer verba para o local, faz a exigência de não dispensar funcionários em horário de expediente, mesmo que eles não estejam necessariamente envolvidos em oficinas.

Apesar dessa dificuldade a importância desse projeto é visível na educação e na vida daqueles que fazem parte dessa forma de “socialidade”.

 

Cajun Solon Borges

Endereço: Praça Odilon Grijó, s/nº Solon Borges, Vitória, ES.

Telefone: 3317-1566

 Outras unidades

< http://www.vitoria.es.gov.br/semas.php?pagina=ondeficam_cajuns >

Fotografias: Any Cometti

Editoração: Thaiana Gomes

Ajudar é sempre viável

por Esther Ramos Radaelli

Agora, Aline é voluntária do projeto

Dos 6 aos 16 anos, Aline Santos Duarte, freqüentou a Casa de Acolhimento e Orientação à Crianças e Adolescentes, que fica em Maria Ortiz, Vitória. Hoje, aos 21 anos, cursa Serviço Social e está na Caoca como voluntária na área de Educação Social. Ela, seus irmãos e todos os seus primos freqüentaram esse projeto. Aline afirma que é muito difícil encontrar uma criança da Grande Goiabeiras* que não estude no local. Essa jovem estudante é exemplo da grande porta que essa Casa abre para as crianças da região, sendo uma alternativa para fugirem de um caminho tentador, o do envolvimento com as drogas.

Foi justamente a preocupação com o destino das crianças desses bairros com alto nível de violência, que em 1995, freiras da Paróquia da Ressurreição, do Bairro República, resolveram criar um espaço, em que os jovens pudessem se divertir e aprender, longe do assédio do crime. Com esse intuito a Caoca foi fundada e mesmo em 2010, ano em que comemorou quinze anos, o quadro que se enfrenta é o mesmo, sendo que a competição pelo “dinheiro fácil” é cada vez mais desleal, como afirma a assistente social do projeto, Miliane Aparecida de Oliveira Moraes, de 24 anos.

Na época em que Aline era uma jovem de 16 anos, o fascínio pelo consumismo era menor do que o se verifica nos dias atuais. Hoje, é difícil conseguir que a faixa etária acima dos 14 anos participe do projeto. Como afirma o professor de capoeira Frank Sales, 36 anos, a participação de adolescentes tem diminuído bastante, pois eles procuram dinheiro para satisfazer a vontade de comprar e isso eles não encontram nesse ambiente. E essa é a tal competição desleal a que Miliane se referia.

Alguns dos que freqüentaram o projeto agora têm estágio e estudam em escolas federais, entretanto a defasagem de estudo dos alunos é grande. Existem casos de estudantes com 14 anos que ainda estão na 4º série. Diante disso o estágio é inviável, já que para participar de programas que inserem os adolescentes no mercado de trabalho é necessário, pelo menos, a 7º série. Ao contrário das drogas, que muitas vezes estão dentro da própria casa de alguns deles. Eis ai mais uma dificuldade da Caoca.

Missão da Caoca

Dentro do espaço, a temática da violência é abordada, inclusive com a realização de palestras sobre drogas. Porém como falar contra algo que muitas vezes é a renda que sustenta aquelas famílias? É contraditório. Mas é a realidade vivida. E é com ela que Miliane, Aline, Frank e todos os outros membros, contratados ou voluntários, têm que lidar.

Diante de tudo isso, um dos pré-requisitos para participar do projeto cai por terra. Nas regras, se prevê que para participar das atividades da Casa é necessário ter idade entre 6 e 17 anos, ser matriculado em alguma escola, ser morador da Grande Goiabeiras e ter renda mínima de um quarto de salário mínimo per capita. Porém, Miliane questiona, como você pode recusar uma criança que tenha mais do que essa renda, mas viva em um contexto de risco social (casos de prostituição, tráfico e alcoolismo na família)”? Por isso, o fator risco torna-se o mais relevante. O projeto atende 200 pessoas e existem aproximadamente 30 na lista de espera, com esse número daria para abrir mais duas turmas.

 

O que é feito no Caoca

A realidade das pessoas atendidas pela Instituição já foi mostrada e uma pergunta deve estar sendo feita: Como funciona o trabalho da Caoca? O projeto funciona em dois turnos, para que suas atividades não interfiram na escola regular. O trabalho feito com os estudantes é chamado de oficina. Em cada turno existem duas. Uma de maior recreação, como: aula de capoeira, música ou informática. Enquanto a outra oferece um reforço escolar, mas de forma não convencional se comparado a maioria das escolas. Isso se dá através de projetos em que os educadores levam matérias curriculares para os alunos de forma lúdica.

Aline, por exemplo, trabalha com crianças entre 7 e 10 anos. O nome de seu projeto é História de Assombração, que funciona da seguinte forma: ela conta histórias sobre alguns mitos e as crianças devem ouvir e reescrever esses contos, o que culminará, ao final do trabalho, na confecção de um livro. Esse é apenas um exemplo. Existe o projeto

Identidade que busca desvendar a origem de cada criança e fazer com que todas tirem suas carteiras de identidade. E também o Segredo da Pesca, que o Frank, professor de capoeira, ajuda a coordenar está levando os alunos a conhecerem mais sobre a pesca. Dessa maneira, a Instituição pretende prender o interesse dos estudantes.

É importante ressaltar que a Caoca procura trazer os pais para poderem participar junto aos seus filhos. Essa participação é maior com as crianças, porém, de qualquer maneira, os responsáveis têm que comparecer às reuniões ou aos encontros com membros do projeto, para se interarem sobre o que está acontecendo. Isso deve acontecer para que as crianças e os adolescentes permaneçam freqüentando o espaço.

As crianças se divertem na biblioteca

O espaço para a realização de todas essas atividades é amplo. São três andares com várias salas, uma boa biblioteca, instrumentos musicais e muitos brinquedos. No térreo ainda há um parquinho de diversões e uma quadra. A correria das crianças pelos corredores, as risadas e a agitação no local mostram que todo esse espaço é muito bem aproveitado por todos.

Como sobrevivem?

Hoje, o Caoca sobrevive com o auxilio de duas associações: a Abefs (Associação Brasileira de Educação Familiar e Social) e Aefs (Associação Estadual de Educação Familiar e Social). Elas auxiliam o projeto pagando alguns custos, como o salário de alguns funcionários contratados e outras despesas da Casa. Porém, é uma ajuda. Por isso, a Instituição precisa de qualquer tipo de doação, seja de alimentos, dinheiro, livros ou roupas. Eles também possuem um bazar*, cujo valor máximo é 5 reais, que ajuda a pagar as demais despesas.

* A Grande Goiabeiras é formada pelos bairros: Maria Ortiz, Parque Residencial Maria Ortiz, Sólon Borges, Goiabeiras Velha, Segurança do Lar, Jabour, Antônio Onório, Bairro República e Morro da Boa Vista.

*O bazar funciona de segunda a sexta, das 14:00 as 17:00 e é aberto a toda comunidade.

  • No dia 15 de dezembro será realizado o almoço de Natal. A partir de novembro a Caoca procura pessoas que queiram apadrinhar as crianças e adolescentes para visitar e dar presentes nessa data especial. Qualquer um que se interessar por esse evento ou para saber mais sobre o projeto é só entrar em contato através do telefone abaixo.

Caoca

http://www.caoca.org.br/

Rua Professor Mário Bodart, 304, Maria Ortiz, Vitória, ES
CEP: 29.070-510
Tel: (27) 3327-4928

Editora: Maíra Mendonça Cabral

Fotos: Any Cometti

Um sonho realizado

Ana Maria, Coordenadora da instituição

por Thaiana Gomes e Maíra Mendonça

Um olhar mais atento é capaz de identificar em meio a todas as construções da Avenida Serafim Derenze, Vitória, um lugar iluminado. Concebida há dez anos por um sonho comum de Ana Maria Pschoalini Valente, 53 anos, e seu marido, a Instituição Filantrópica Caminho da Luz auxilia hoje 40 famílias dos bairros Santa Marta, Mangue Seco, Joana D’arc e Morro da Engenharia. Por se tratar de uma instituição filantrópica, conta apenas com o apoio e doações de empresas, além da colaboração de amigos e voluntários.

O projeto consiste na realização de atividades que envolvem, ao mesmo tempo, pais e filhos. A instituição oferece uma mini cesta básica a cada 15 dias às famílias cadastradas, além de aulas de informática, judô, crochê, tricô, pintura, bordados variados e confecção de bijuterias. “Quando a gente aprende não quer mais largar”, diz a aluna Rafaela de Jesus Lopes, 13 anos, uma das revelações do curso de crochê. Para participar, as crianças precisam estar devidamente matriculadas nas escolas regulares e, tanto elas quanto suas mães devem freqüentar assiduamente as aulas promovidas pela instituição.

Rafaela de Jesus Lopes, revelação do crochê

Esse auxílio vai além das portas do projeto. Trata-se também de um trabalho de humanização. Os voluntários estabelecem um contato particular com as famílias, procurando suprir as necessidades de cada uma de maneira a reinseri-las na sociedade e atuando na revitalização das relações entre seus membros. Como afirma Ana Maria, os filhos seguem os exemplos de seus pais, portanto precisam de boas referências dentro de seus lares para se tornarem pessoas melhores.

Incentivo que faz a diferença

Além do incentivo à prática de esportes, que já rendeu vários troféus, inclusive o segundo lugar no Campeonato Estadual de Judô do Espírito Santo e de atividades artísticas, a Instituição Caminho da Luz implementa também um trabalho de orientação a gestantes. Promovendo um trabalho especial com as grávidas adolescentes que, na maioria das vezes não possuem estrutura psicológica e econômica para lidar com a gravidez. Lá também são realizadas atividades com o objetivo de aumentar a renda e a qualidade de vida dos moradores. O dinheiro arrecadado com a venda dos produtos artesanais fabricados na instituição é revertido para as famílias e, com esse dinheiro, elas podem comprar os produtos do Bazar da Pechincha. Esse bazar é realizado por meio de doações que vão de roupas e sapatos a eletrodomésticos e são vendidos a um preço baixo.

Dona Zuleica, uma das Senhorinhas Voluntárias

O tal do “reolhar”

“Quando você pensa que está ajudando, percebe que também está sendo ajudado. Esse trabalho me traz satisfação e equilíbrio”. Esta frase foi dita por dona Zuleica Silva Lage, 80 anos, e demonstra o afeto e a dedicação que ela tem pela instituição. Dona Zuleica é uma das integrantes do grupo de dez senhorinhas voluntárias do Caminho da Luz, que atuam na produção artesanal e ministram as oficinas de trabalhos manuais. É fácil perceber na expressão de cada uma o empenho e vigor com que trabalham. Ao entrar no ateliê é impossível não contagiar-se com a alegria e a empolgação de todas.

Participar de projetos sociais é mais que ajudar ao outro, é estar atento para perceber e auxiliar aqueles que não possuem os mesmos privilégios que nós. Utilizando as palavras de dona Zuleica, esse é o tal “reolhar a sociedade”.

  • O curso de informática funciona de segunda a quinta-feira das 8h às 11h e de 13h30 às 17h.
  • As aulas de judô são oferecidas todos os dias.

Instituição Filantrópica Caminho da Luz

Endereço: Av. Serafim Derenze, 11.100 – Bairro Santa Marta

CEP: 29000-000- Vitória – ES

Telefone: (27) 3325-9909 CEL: (27) 8134-6420

E-mail: anamaria@corpus.com.br

Fotos: Thaiana Gomes/ Maíra Mendonça

Edição:  Izabelly Possatto

Trabalhando diferenças, destacando habilidades

Porta de entrada da AMAES

por Any Cometti

Uma síndrome que não pode ser comprovada por meio de exames, mesmo porque ainda não se descobriu ao certo qual é sua causa. O autismo é um distúrbio no desenvolvimento humano que compromete a capacidade do sujeito de comunicar-se e integrar-se à sociedade, e não possui características físicas específicas, como é o caso da Síndrome de Down. Assim, só é descoberto por volta dos três anos de idade, quando a criança começa a enfrentar dificuldades na convivência em comunidade. Sobretudo pela falta de conhecimento sobre essa particularidade, os familiares muitas vezes não tomam os cuidados que se deve ter com um autista.

A AMAES, Associação dos Amigos dos Autistas do Espírito Santo, funciona como um centro de atendimento psicopedagógico a crianças de 6 a 17 anos que têm autismo e/ou Síndrome de Aspenger (considerada o grau mais leve do autismo). Criada em 2001, ocupa hoje um espaço amplo em Goiabeiras, Vitória, próximo à entrada do Bairro República. A associação hoje assiste 22 crianças e é mantida por doações e pelo voluntariado. Esse ano está recebendo a ajuda da Sedu, que recentemente mandou equipamentos e móveis para abertura de salas com melhor equipagem, necessárias para um atendimento mais eficaz  aos alunos. O trabalho desenvolvido pela instituição tem como objetivo incluir o autista na sociedade, apesar de suas restrições. A família também não fica à parte do atendimento. Em toda primeira quarta-feira do mês há um grupo de terapia familiar, para que mães e pais compartilhem angústias, alegrias e troquem experiências. Sônia Maria Raimundo, 33 anos, psicopedagoga da instituição, fala que o atendimento atinge famílias de todas as classes sociais, e que as que têm melhores condições financeiras auxiliam a instituição e aquelas que são menos privilegiadas.

 Uma maneira diferente de lidar

Roseane Ferreira e seu filho, Lucas, atendido pela AMAES

Uma lei define que todo aluno de escolas especiais tem, também, que cursar escolas regulares. Desde que a interação nessa segunda não lhe cause problemas. Mas, como explica Sônia, autistas e esquizofrênicos, por exemplo, nem sempre podem entrar em escolas regulares. Alguns têm hipersensibilidade a sons, são agitados; o barulho de uma escola os incomoda e prejudica ainda mais o convívio em sociedade, e muitas delas ainda não dispõem de profissionais capacitados para atender alunos com necessidades especiais.
Segundo Roberta Kellen Felix Siqueira, 27 anos, cuidadora, o autista tem uma preferência e um gosto padronizado; “Se ele gosta de uma música, como exemplo, só ouve aquela todos os dias, não aceita outra”. Para aproveitar essa preferência, é feito um trabalho de trocas: “pedimos para fazerem algo que não gostam e, em troca, os deixamos fazer algo que lhes agrada”. Várias pessoas os julgam, sem o conhecimento prévio, como crianças mimadas. A questão é que os autistas vivem num mundo próprio, têm uma grande aversão àquilo que não lhes desperta interesse, podem ser agressivos com os outros e até com si mesmos e constroem sua própria realidade.
Um dos trabalhos desenvolvidos pela instituição é o de musicoterapia, desempenhado pela voluntária Sheila Mara de Moraes Souza Alencastre, 36 anos, formada em música e pós-graduada em educação. Sheila diz que a música é usada como meio de relaxamento e de equilíbrio, e que cada aluno tem uma especificidade. Há alunos que compõem e gostam, e é preciso trabalhar esse interesse. “Tem-se de aproveitar todo o potencial de cada aluno, dentro de suas limitações”. Além da musicoterapia, os alunos fazem pinturas, modelagens, atividades físicas, colagens e usam brinquedos educativos, tudo dentro do que cada um consegue e gosta de fazer, sendo previamente avisado, já que a noção de rotina deles é muito bem definida.
Os autistas têm carências em atividades de determinadas áreas, mas são muito avançados em outras. Roseane Ferreira Santos da Costa, 42, afirma que seu filho, Lucas, de 8 anos, atendido pela instituição há 6 meses, tinha muitas dificuldades na alfabetização e aversão aos instrumentos usados nela, como lápis e papel. Hoje ele tem prazer em copiar e escrever. “Ele tinha essa dificuldade, mas sempre soube mexer muito bem no computador”. Lucas é trigêmeo, e a mãe relata que os irmãos percebem que ele é diferente e o ajudam, participando de parte da terapia. Os três irmãos estudam numa escola regular, na qual o tratamento de Lucas é diferenciado. A avaliação, por exemplo, é oral; “Foi uma maneira que encontraram, com a ajuda da neuropediatra, de fazer a avaliação da melhor forma”. Roseane aprendeu a lidar com as limitações, com as habilidades do seu filho e a descobrir um pouco mais dele a cada dia com a Amaes, porque, segundo a mesma, não existe uma receita para cuidar de um autista. “A diferença é que ele precisa confiar: no espaço físico e na pessoa que lida com ele”.

 

*Haverá uma reforma no auditório da instituição, e a previsão é que a inauguração dele seja realizada com uma palestra, aberta ao público, de um grande estudioso do assunto. Mais informações estarão disponíveis em breve no site da Amaes (http://amaesvitoria.org.br/). Além das doações, a associação se sustenta com um bazar, que é mantido por qualquer um que quiser e puder ajudar, por pessoas da comunidade e pelas famílias dos alunos; e pelo voluntariado. Hoje, a associação necessita da ajuda voluntária de fonoaudiólogos, pedagogos e terapeutas ocupacionais. Para entrar na Amaes, é necessário que um responsável leve o aluno, que deve ter entre 6 e 17 anos, para uma avaliação na instituição. Depois disso, é avaliada a necessidade de atendimento e em que turma o aluno pode comparecer e participar.

 

AMAES – Associação dos Amigos dos Autistas do Espírito Santo

Endereço: Av. Fernando Ferrari, 2115
Goiabeiras,Vitória-ES
Cep.: 29075-041
Telefone:(0 27 )3327-1836

Horário de Funcionamento: das 7h30 às 18h

Site: http://amaesvitoria.org.br/
E-mail: amaes@amaesvitoria.org.br

 Edição: Thaiana Gomes

Fotos: Esther Radaelli

Dos bairros aos palcos

por Izabelly Possatto

Alunas do grupo com o professor César Ferreira

Que a Praça Costa Pereira é palco de cultura e arte no centro de Vitória não é novidade, afinal lá se encontra o teatro Carlos Gomes (uma mistura de estilo neo-renascentista com arquitetura inspirada no Scala de Milão, na Itália). O que muitos desconhecem é que esse cartão-postal da cidade abriga a ACES – Ação Comunitária do Espírito Santo, que possui, entre outros projetos, o Pequenos Talentos.

O projeto Pequenos Talentos completa 13 anos em 2010 e apresenta diversos núcleos em bairros da Grande Vitória, como Soteco, Vale Encantado, Vila Nova de Colares, Novo Horizonte, Feu Rosa, Santo Antônio, Centro e em São Benedito, que foi onde começou. Visando democratizar o acesso à dança, professores ensinam os desafios do ballet clássico. Em média, são 300 alunos beneficiados com idade entre 7 e 20 anos. Grandes empresas, assim como leis de incentivo a cultura, mantêm o funcionamento do espaço. Para a coordenadora Luciene Bautz Dalben, 41 anos, nota-se uma mudança no perfil dos alunos ao longo dos anos. Ela relata que há uma disciplina entre os bailarinos e que, apesar de poucos seguirem carreira, há outros trabalhos que absorvem o conhecimento da dança e dos palcos. O Pequenos Talentos visa, em sua essência, formar cidadãos em conjunto com a disciplina e cooperação adquiridos no ballet.

Existem alguns pré-requisitos a serem preenchidos para participar do projeto. O ingresso nas séries iniciais é destinado aos jovens de 7 a 12 anos com renda até meio salário mínimo, que após a avaliação inicial passam por uma seleção em que os mais aptos naquele momento entram. A prova consiste em movimentos práticos que o professor passa com o intuito de julgar o desempenho do aluno, pois infelizmente são poucas vagas para muitas crianças. É importante destacar que por existirem núcleos espalhados em diversos municípios, não há uma ajuda financeira para o transporte. Os núcleos são uma unidade de introdução e aprendizado da dança. Quando experientes há a possibilidade de ingressarem no grupo, que funciona no centro e que representa o projeto em diversos locais de apresentações. Neste caso os alunos recebem benefícios, uma vez que são bailarinos de diversos locais da Grande Vitória. As aulas e ensaios para o grupo acontecem diariamente das 14h às 16h.

Erica e Patrícia, ambas com 17 anos, afirmam o interesse de seguir carreira em boas companhias. Para elas o projeto proporciona amizade, conhecimento e boas viagens, além da dança.


O projeto Pequenos Talentos completa 13 anos em 2010

Fernanda, 15 anos, participa há três anos e optou por tentar entrar no Pequenos Talentos após ver um anúncio naescola. Ela conta que na primeira edição do Passo de Arte aqui no estado, ocorrida no último final de semana, as coreografias apresentadas foram premiadas com 3º lugar em dança contemporânea e em dois trios.

Participar do projeto pode abrir portas para muitos, já que os alunos podem conseguir bolsas em academias particulares. Entretanto, enquanto eles ainda estiverem ligados ao Pequenos Talentos, têm que conciliar ambos, dedicando-se igualmente às aulas e ensaios da escola e do grupo. Atualmente, já existem professores que saíram do projeto e agora são os que transmitem o conhecimento; acabam sendo referência e fonte de inspiração de muitos que começam.

Passo de arte: Competição de diversos tipos de dança ocorrida em diferentes estados do país e que em 2010 teve, pela primeira vez, uma edição no Espírito Santo.

ACES – Ação Comunitária do Espírito Santo

Praça Costa Pereira, 52 – Centro. Vitória – ES

Telefone: (27) 3222-4205

Fotos: Thaiana Gomes

Edição: Esther Ramos Radaelli

A informação que salva vidas

Área de Lazer da Casa Sagrada Família

por Esther Ramos Radaelli

No final da Rua Graciano Neves, Centro de Vitória, existe uma casa. É claro, existem várias. Mas essa é diferente, atende pelo nome de Casa Sagrada Família. Três andares, vários quartos, um amplo espaço e um convívio de muita dedicação.

Em 1995, várias pessoas se reuniram e começaram a visitar crianças que tinham AIDS da área de risco do Hospital Infantil. Porém, perceberam que elas precisavam de ajuda para além das visitas. Muitas dessas crianças ficavam órfãs, já que seus pais eram aidéticos, e foi com esse sentimento de mobilização desse grupo de pessoas que tudo começou.

Contextualizando

O Brasil só iniciou a produção do AZT (um dos remédios que compõem o coquetel que trata da doença), no ano de 1993. E ele só passou a ser disponível na rede pública três anos depois. Sendo assim, na década de 80 e inicio das 90 os aidéticos ficavam a mercê da doença. Se o acesso aos medicamentos era precário, as informações sobre o vírus seguiam esse mesmo caminho. Assim, não existia esclarecimento sobre as formas de uma gestante soro positiva impedir que seu filho também fosse infectado. Foi nesse contexto que aquelas pessoas, que iam levar um pouco de alegria a crianças no hospital, conseguiram criar, em 1 de dezembro de 1996, a Casa Sagrada Família.

Como funciona

A Casa Sagrada Família é uma obra da Missão da Comunidade Católica Epifania (esse termo significa manifestação), ligada à Arquidiocese de Vitória, que possui esse trabalho como uma de suas frentes.

A técnia de enfermagem Fabíola Carla Lopes cuidando de um dos moradores da casa

Funciona da seguinte maneira: o juizado encaminha pessoas, de 0 a 18 anos, que perderam seus pais vítimas da AIDS ou de suas complicações, ou ainda, crianças que possuem pais doentes, em decorrência do vírus, que não tem condição de cuidar de seus filhos. E na Casa Sagrada Família eles recebem todo o acompanhamento necessário. A técnica de enfermagem Fabíola Carla Lopes, 33 anos, é responsável por dar a medicação (antirretrovirais) e por levá-los às consultas mensais do Hospital Infantil, que incluem acompanhamento de infectologistas e profissionais de várias outras áreas. Nesse hospital os medicamentos necessários ao tratamento da doença são fornecidos gratuitamente.

É importante ressaltar que a Casa Sagrada Família é o lar das crianças. Assim, lá elas dormem, se alimentam e possuem vida normal, como a de qualquer criança. Brincam, vão à escola, lêem, se divertem. E quando se machucam, lá está a Fabíola de novo com sua luva para fazer os curativos com os cuidados de higiene necessários.

Porém, além de abrigar 20 crianças, as atividades abrangem também famílias que necessitam de ajuda, seja financeira ou de informações gerais, para lidar com a AIDS. São 85 famílias atendidas. Algumas recebem cestas básicas, outras esclarecimentos sobre as precauções e cuidados que a doença exige e formas de auxilio, como em alguns casos em que ajudaram a reformar casas de pessoas que viviam em condições precárias.

Além da casa no centro existe um outro espaço na Ponta da Fruta que funciona dessa mesma forma e possui os mesmos objetivos.

Todo esse trabalho só é possível graças às doações de várias pessoas, seja de 10 reais, cesta básica ou depósitos de boleto, afirma Edna Conceição de Andrade, 42 anos, coordenadora da casa. Sendo assim, qualquer um que se interessar em colaborar é só entrar em contato. Voluntários também são sempre bem-vindos.

Entrada da Casa Sagrada Família, obra da Missão da Comunidade Católica Epifania, da Arquidiocese de Vitória

Estatísticas

A cada um minuto quatro jovens contraem o vírus em todo o mundo e um menor de 15 anos morre em decorrência de causas provocadas pela AIDS. E em cada dia 1,8 mil crianças com menos de 15 anos morrem por infecções causadas pelo HIV e mais de seis mil jovens, entre 15 e 24 anos, contraem a doença.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Programa das Nações Unidas Contra a Aids (Unaids) constataram que na atualidade menos de 10% das mulheres grávidas portadoras do HIV recebem algum tipo de ajuda que evite a transmissão do vírus para o feto (transmissão vertical).

Se essa gestante não tiver qualquer tipo de acompanhamento durante a gestação, a chance de transmitir o vírus ao filho pode ser de 20%. Porém, se as medidas médicas forem cumpridas, esse número cai para 1%. Essas recomendações são: uso combinado de antirretrovirais na grávida e no recém-nascido, parto cesariano e não amamentação.

O vírus está presente no sangue, secreção vaginal, sêmen e leite materno. Assim as maneiras de transmissão são: sexo oral, anal ou vaginal sem camisinha; da mãe infectada para o filho durante a gestação, na hora do parto ou amamentação; transfusão de sangue, caso o doador esteja contaminado; compartilhamento de instrumentos que cortam ou furam que não estejam esterilizados.

Ação

Se as mães, cada vez mais, tiverem acesso a essas informações, o número de transmissões verticais pode cair drasticamente. Se as pessoas seguirem as recomendações indicadas para evitar o contagio com o vírus, o número de doentes também cairá drasticamente. Assim, atividades como a da Missão Casa Sagrada Família não serão mais necessárias.

Casa Sagrada Família

Rua Graciano Neves, 516 – Centro
Vitória – ES
Fone: (27) 3322-4640

Fotografia: Izabelly Possatto

Edição: Any Cometti