Lar doce lar

por Thaiana Gomes

Com o intuito de acolher crianças e adolescentes em risco social, nasceu há nove anos a Casa Lar. Um espaço onde são atendidos meninos entre 12 e 17 anos com poucas chances de reinserção em suas famílias. O local mantém esses jovens fora das ruas e lhes assegura educação e o senso de responsabilidade, sejam elas com a própria casa ou com seus estudos.  Esta instituição é uma parte de um projeto maior o “Viva a Vida”. Tal projeto abrange cinco espaços de acolhimento institucional.

O começo

A criação da Casa Lar foi uma iniciativa de dona Eunice Soares de Oliveira, mais conhecida como “Tia Nicinha”, coordenadora da instituição, e do seu marido Luiz Nunes de Oliveira, 62 anos. O casal já morava na casa, imóvel de padres pavonianos, no bairro de Bela Vista, Vitória.

Interessada na causa social dona Eunice, juntamente com o apoio dos pavonianos, transformaram a casa comum em que reside até hoje, em uma casa abrigo. No início não foi fácil.  Tia Nicinha conta que, lidar com 12 crianças e adolescentes era complicado.

Hoje com 12 meninos ainda, a Mãe Social do projeto, diz que a Casa é o seu maior orgulho. Mãe de três filhos, conta receber o total apoio deles. Todos ajudam e participam da Casa Lar. Mãe de mais 12 revela sentir imensa felicidade ao ver seus “filhos” bem encaminhados. “Dois fazem estágio, um faz natação, outros três participam do Cajun. Não me vejo mais sem eles.”

"Casa Lar"

A instituição é administrada pela Fundação Fé e Alegria, com recursos da Prefeitura de Vitória e de doações. Esta mesma fundação gere os outros cinco espaços de acolhimento e coordena o projeto “Viva a Vida”.

A Casa

A Casa Lar possui uma estrutura física grande. São seis quartos, cada um com uma suíte. Uma cozinha, um espaço para as aulas de reforço, sala ampla com as paredes coloridas, uma estante cheia de livros e uma televisão, a melhor parte da Casa para Vanilson Soares de Oliveira, 14 anos. O aspirante a jogador de futebol está na instituição há três anos e diz que antes de entrar na casa ficava muito tempo na rua. Fato comum entre a maioria dos meninos.

Em cada quarto da casa dormem dois garotos, eles que ajudam na limpeza e organização do local. Cada um é responsável por arrumar seu quarto, seu guarda- roupa, sempre com a ajuda de uma das educadoras. Elas levam as crianças mais novas à escola, auxiliam na preparação do café, além de oferecerem aulas de reforço escolar.

As refeições da casa são preparadas pelas mãos habilidosas e sempre elogiadas de dona Maria Odete, 48 anos. “Alimentando” o projeto há seis anos, dona Maria conta que no começo os meninos chegam assustados, mas com o tempo se habituam. “Eles me tratam bem, são muito educados e atenciosos. Fico contente com a consideração que eles têm comigo”, afirma dona Odete com um sorriso sincero, enquanto lava a roupa dos meninos, “ é muita roupa…”

Thiago da Silva, 17 anos, está no abrigo há quatro anos e fala do convívio com os outros meninos. Diz que as tarefas são sempre divididas, mas como em toda casa de família, alguém sempre acaba reclamando que faz mais ou que o outro fez menos. Thiago é o mais velho de todos e serve de exemplo para os mais jovens. O adolescente cursa o ensino médio e começou a fazer curso de eletricista. Para ele, a casa foi um grande incentivo aos estudos.

Uma grande família

Janete, uma das educadoras da "Casa Lar"

“Eu me envolvo demais com eles”. Tamanho envolvimento faz Janete compartilhar sua vida profissional com a própria família. A educadora diz que leva os meninos para sua casa, “eles convivem com meus filhos”. O carinho entre as “Mães” da casa- Janete, dona Maria e Tia Nicinha-, e os meninos é recíproco. Entre uma palavra e outra com a entrevistadora, beijos e abraços se tornaram recorrentes entre Janete e os meninos, que se aproximavam curiosos. Nos aniversários sempre fazem festa, as refeições são feitas com todos à mesa sempre que possível, e eles vão à igreja aos domingos. A Casa Lar mantém a rotina de uma casa normal, tentando oferecer aos meninos uma verdadeira família.

Ter consciência de suas próprias atitudes, agir de forma cooperativa com os demais membros da casa, ser responsável e aceitar os limites, esse é o papel dos 12 meninos acolhidos pela Casa e pelas “mães” da instituição.

Não há duvida que quando se trabalha na melhoria da situação desses jovens, dando-lhes a oportunidade de um futuro melhor, estamos melhorando não só a vida deles, como também da sociedade. Sendo assim, é indiscutível a importância desse abrigo, pois segundo dados do IBGE* apenas 24% das cidades brasileiras possuem esse tipo de assistência.

*http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/05/ibge-divulga-dados-sobre-assistencia-social-no-brasil.html

* Pavonianos: Congregação Religiosa dos Filhos de Maria Imaculada fundada em 1847, inspirada no trabalho do Padre Ludovico Pavoni, religioso nascido em Bréscia e beatificado em 14 de abril de 2002.

Casa Lar

Endereço: Rua João Soares, 287, Bela Vista.

Telefone: (27) 3322-3728

Foto: Maíra Mendonça

Edição: Esther Ramos Radaelli

Nos passos do Futuro

por Izabelly Possatto

Faxada do Cajun Solon Borges

Um projeto que acolhe crianças e adolescentes após o horário escolar com o intuito de transmitir mais conhecimento e preencher o tempo livre dessas pessoas. Esse é o Cajun, que possui ao todo 15 unidades espalhadas por Vitória. Surgiu promovendo a socialização dos atendidos e propagando a pacificação em bairros que possuem comunidades carentes. Atende a faixa-etária dos 7 aos 17 anos de segunda a quinta em diversos bairros. Para auxiliar no aprendizado dos jovens há professores, coordenadores e assistentes sociais que desenvolvem os trabalhos.

“Caminhando Juntos” foi o nome escolhido para esta instituição, que é um amplo espaço de aprendizado para aqueles que a freqüentam. Criado em 1995, era desenvolvido em apenas um bairro, em um espaço físico cedido pela prefeitura municipal, mas logo ganhou grandes dimensões. Hoje o projeto recebe, além dos estudantes dos bairros que o sediam, comunidades adjacentes que também são beneficiadas por essa iniciativa municipal.

 Entendendo o projeto

 De segunda a quinta os jovens se reúnem em dois turnos, matutino e vespertino, para que a participação nas aulas extras não influencie de forma negativa a carga da escola regular. Eles escolhem de uma a quatro oficinas, em que exercerão o esporte, dança ou arte, coordenados por profissionais qualificados contratados pela prefeitura.

Um desses professores é Rogério Alves Marques, de 46 anos, técnico de vôlei campeão brasileiro e estadual com o time adulto do Flamengo do Rio de Janeiro e há um ano e meio no projeto. Morando em Vitória agora, relata que inicialmente trabalhou na secretaria de esportes do município e ao transferir-se para o Cajun houve um choque inicial, mas de forma positiva. Por causa da organização e planejamento de todos que trabalham na instituição, precisou voltar a estudar para adquirir um maior conhecimento e assim conseguir despertar o interesse dos jovens. Ele frisa a importância de resgatar os valores da sociedade através do lúdico e das brincadeiras ensinadas nas aulas.

Rogério primeiramente teoriza cada fundamento esportivo para então aliar a prática, proporcionando um conhecimento maior desse universo. No caso de um interesse em determinada área, afirma que existem projetos da prefeitura especializados para o desenvolvimento daquele esporte específico.

Detalhe da arte no muro do espaço físico do projeto

As sextas-feiras não existem oficinas, porém é dia normal de expediente. Reserva-se a agenda para planejamento geral e avaliação da semana e, se preciso, conversa-se sobre algum aluno. O Caminhando Juntos também oferece palestras para maior acompanhamento dos participantes. Dentre os temas destaca-se a noção de cidadania e discussões a respeito da pedofilia.

Feliciano Monteiro, coordenador do projeto em Solon Borges, afirma que durante o projeto é possível acompanhar mudanças nos participantes. Muitos saem empregados ou estagiários de diferentes empresas, outros aprendem a socializar-se, há uma completa transformação. E isso só é possível em parte porque não há espera para ser beneficiado. Basta entrar em contato com a secretaria e apresentar os documentos exigidos para ter a matrícula efetivada. Comprovante de residência, renda familiar e matrícula escolar da criança. Para aqueles que não possuem o último requisito o Cajun também auxilia realizando um encaminhamento a escolas da rede pública de ensino.

 

Dificuldades

 Como toda matéria esta também teve seus momentos difíceis. Destaca-se aqui a impossibilidade de diversos relatos por parte dos profissionais que trabalham no Cajun. Há uma enorme burocracia envolvendo o Caminhando Juntos e após alguma insistência conseguimos o telefone da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS). Entretanto, ao ligar para obter respostas a pessoa responsável pelo projeto nunca está disponível para conceder maiores informações. Resta a aqueles que têm dúvidas ou desejam algum tipo de esclarecimento fazer plantão na porta de uma das 15 unidades e tentar maiores informações com a saída dos funcionários. De acordo com o coordenador de Solon Borges, isso ocorre devido ao envolvimento da prefeitura que, por fornecer verba para o local, faz a exigência de não dispensar funcionários em horário de expediente, mesmo que eles não estejam necessariamente envolvidos em oficinas.

Apesar dessa dificuldade a importância desse projeto é visível na educação e na vida daqueles que fazem parte dessa forma de “socialidade”.

 

Cajun Solon Borges

Endereço: Praça Odilon Grijó, s/nº Solon Borges, Vitória, ES.

Telefone: 3317-1566

 Outras unidades

< http://www.vitoria.es.gov.br/semas.php?pagina=ondeficam_cajuns >

Fotografias: Any Cometti

Editoração: Thaiana Gomes

Ajudar é sempre viável

por Esther Ramos Radaelli

Agora, Aline é voluntária do projeto

Dos 6 aos 16 anos, Aline Santos Duarte, freqüentou a Casa de Acolhimento e Orientação à Crianças e Adolescentes, que fica em Maria Ortiz, Vitória. Hoje, aos 21 anos, cursa Serviço Social e está na Caoca como voluntária na área de Educação Social. Ela, seus irmãos e todos os seus primos freqüentaram esse projeto. Aline afirma que é muito difícil encontrar uma criança da Grande Goiabeiras* que não estude no local. Essa jovem estudante é exemplo da grande porta que essa Casa abre para as crianças da região, sendo uma alternativa para fugirem de um caminho tentador, o do envolvimento com as drogas.

Foi justamente a preocupação com o destino das crianças desses bairros com alto nível de violência, que em 1995, freiras da Paróquia da Ressurreição, do Bairro República, resolveram criar um espaço, em que os jovens pudessem se divertir e aprender, longe do assédio do crime. Com esse intuito a Caoca foi fundada e mesmo em 2010, ano em que comemorou quinze anos, o quadro que se enfrenta é o mesmo, sendo que a competição pelo “dinheiro fácil” é cada vez mais desleal, como afirma a assistente social do projeto, Miliane Aparecida de Oliveira Moraes, de 24 anos.

Na época em que Aline era uma jovem de 16 anos, o fascínio pelo consumismo era menor do que o se verifica nos dias atuais. Hoje, é difícil conseguir que a faixa etária acima dos 14 anos participe do projeto. Como afirma o professor de capoeira Frank Sales, 36 anos, a participação de adolescentes tem diminuído bastante, pois eles procuram dinheiro para satisfazer a vontade de comprar e isso eles não encontram nesse ambiente. E essa é a tal competição desleal a que Miliane se referia.

Alguns dos que freqüentaram o projeto agora têm estágio e estudam em escolas federais, entretanto a defasagem de estudo dos alunos é grande. Existem casos de estudantes com 14 anos que ainda estão na 4º série. Diante disso o estágio é inviável, já que para participar de programas que inserem os adolescentes no mercado de trabalho é necessário, pelo menos, a 7º série. Ao contrário das drogas, que muitas vezes estão dentro da própria casa de alguns deles. Eis ai mais uma dificuldade da Caoca.

Missão da Caoca

Dentro do espaço, a temática da violência é abordada, inclusive com a realização de palestras sobre drogas. Porém como falar contra algo que muitas vezes é a renda que sustenta aquelas famílias? É contraditório. Mas é a realidade vivida. E é com ela que Miliane, Aline, Frank e todos os outros membros, contratados ou voluntários, têm que lidar.

Diante de tudo isso, um dos pré-requisitos para participar do projeto cai por terra. Nas regras, se prevê que para participar das atividades da Casa é necessário ter idade entre 6 e 17 anos, ser matriculado em alguma escola, ser morador da Grande Goiabeiras e ter renda mínima de um quarto de salário mínimo per capita. Porém, Miliane questiona, como você pode recusar uma criança que tenha mais do que essa renda, mas viva em um contexto de risco social (casos de prostituição, tráfico e alcoolismo na família)”? Por isso, o fator risco torna-se o mais relevante. O projeto atende 200 pessoas e existem aproximadamente 30 na lista de espera, com esse número daria para abrir mais duas turmas.

 

O que é feito no Caoca

A realidade das pessoas atendidas pela Instituição já foi mostrada e uma pergunta deve estar sendo feita: Como funciona o trabalho da Caoca? O projeto funciona em dois turnos, para que suas atividades não interfiram na escola regular. O trabalho feito com os estudantes é chamado de oficina. Em cada turno existem duas. Uma de maior recreação, como: aula de capoeira, música ou informática. Enquanto a outra oferece um reforço escolar, mas de forma não convencional se comparado a maioria das escolas. Isso se dá através de projetos em que os educadores levam matérias curriculares para os alunos de forma lúdica.

Aline, por exemplo, trabalha com crianças entre 7 e 10 anos. O nome de seu projeto é História de Assombração, que funciona da seguinte forma: ela conta histórias sobre alguns mitos e as crianças devem ouvir e reescrever esses contos, o que culminará, ao final do trabalho, na confecção de um livro. Esse é apenas um exemplo. Existe o projeto

Identidade que busca desvendar a origem de cada criança e fazer com que todas tirem suas carteiras de identidade. E também o Segredo da Pesca, que o Frank, professor de capoeira, ajuda a coordenar está levando os alunos a conhecerem mais sobre a pesca. Dessa maneira, a Instituição pretende prender o interesse dos estudantes.

É importante ressaltar que a Caoca procura trazer os pais para poderem participar junto aos seus filhos. Essa participação é maior com as crianças, porém, de qualquer maneira, os responsáveis têm que comparecer às reuniões ou aos encontros com membros do projeto, para se interarem sobre o que está acontecendo. Isso deve acontecer para que as crianças e os adolescentes permaneçam freqüentando o espaço.

As crianças se divertem na biblioteca

O espaço para a realização de todas essas atividades é amplo. São três andares com várias salas, uma boa biblioteca, instrumentos musicais e muitos brinquedos. No térreo ainda há um parquinho de diversões e uma quadra. A correria das crianças pelos corredores, as risadas e a agitação no local mostram que todo esse espaço é muito bem aproveitado por todos.

Como sobrevivem?

Hoje, o Caoca sobrevive com o auxilio de duas associações: a Abefs (Associação Brasileira de Educação Familiar e Social) e Aefs (Associação Estadual de Educação Familiar e Social). Elas auxiliam o projeto pagando alguns custos, como o salário de alguns funcionários contratados e outras despesas da Casa. Porém, é uma ajuda. Por isso, a Instituição precisa de qualquer tipo de doação, seja de alimentos, dinheiro, livros ou roupas. Eles também possuem um bazar*, cujo valor máximo é 5 reais, que ajuda a pagar as demais despesas.

* A Grande Goiabeiras é formada pelos bairros: Maria Ortiz, Parque Residencial Maria Ortiz, Sólon Borges, Goiabeiras Velha, Segurança do Lar, Jabour, Antônio Onório, Bairro República e Morro da Boa Vista.

*O bazar funciona de segunda a sexta, das 14:00 as 17:00 e é aberto a toda comunidade.

  • No dia 15 de dezembro será realizado o almoço de Natal. A partir de novembro a Caoca procura pessoas que queiram apadrinhar as crianças e adolescentes para visitar e dar presentes nessa data especial. Qualquer um que se interessar por esse evento ou para saber mais sobre o projeto é só entrar em contato através do telefone abaixo.

Caoca

http://www.caoca.org.br/

Rua Professor Mário Bodart, 304, Maria Ortiz, Vitória, ES
CEP: 29.070-510
Tel: (27) 3327-4928

Editora: Maíra Mendonça Cabral

Fotos: Any Cometti

Um sonho realizado

Ana Maria, Coordenadora da instituição

por Thaiana Gomes e Maíra Mendonça

Um olhar mais atento é capaz de identificar em meio a todas as construções da Avenida Serafim Derenze, Vitória, um lugar iluminado. Concebida há dez anos por um sonho comum de Ana Maria Pschoalini Valente, 53 anos, e seu marido, a Instituição Filantrópica Caminho da Luz auxilia hoje 40 famílias dos bairros Santa Marta, Mangue Seco, Joana D’arc e Morro da Engenharia. Por se tratar de uma instituição filantrópica, conta apenas com o apoio e doações de empresas, além da colaboração de amigos e voluntários.

O projeto consiste na realização de atividades que envolvem, ao mesmo tempo, pais e filhos. A instituição oferece uma mini cesta básica a cada 15 dias às famílias cadastradas, além de aulas de informática, judô, crochê, tricô, pintura, bordados variados e confecção de bijuterias. “Quando a gente aprende não quer mais largar”, diz a aluna Rafaela de Jesus Lopes, 13 anos, uma das revelações do curso de crochê. Para participar, as crianças precisam estar devidamente matriculadas nas escolas regulares e, tanto elas quanto suas mães devem freqüentar assiduamente as aulas promovidas pela instituição.

Rafaela de Jesus Lopes, revelação do crochê

Esse auxílio vai além das portas do projeto. Trata-se também de um trabalho de humanização. Os voluntários estabelecem um contato particular com as famílias, procurando suprir as necessidades de cada uma de maneira a reinseri-las na sociedade e atuando na revitalização das relações entre seus membros. Como afirma Ana Maria, os filhos seguem os exemplos de seus pais, portanto precisam de boas referências dentro de seus lares para se tornarem pessoas melhores.

Incentivo que faz a diferença

Além do incentivo à prática de esportes, que já rendeu vários troféus, inclusive o segundo lugar no Campeonato Estadual de Judô do Espírito Santo e de atividades artísticas, a Instituição Caminho da Luz implementa também um trabalho de orientação a gestantes. Promovendo um trabalho especial com as grávidas adolescentes que, na maioria das vezes não possuem estrutura psicológica e econômica para lidar com a gravidez. Lá também são realizadas atividades com o objetivo de aumentar a renda e a qualidade de vida dos moradores. O dinheiro arrecadado com a venda dos produtos artesanais fabricados na instituição é revertido para as famílias e, com esse dinheiro, elas podem comprar os produtos do Bazar da Pechincha. Esse bazar é realizado por meio de doações que vão de roupas e sapatos a eletrodomésticos e são vendidos a um preço baixo.

Dona Zuleica, uma das Senhorinhas Voluntárias

O tal do “reolhar”

“Quando você pensa que está ajudando, percebe que também está sendo ajudado. Esse trabalho me traz satisfação e equilíbrio”. Esta frase foi dita por dona Zuleica Silva Lage, 80 anos, e demonstra o afeto e a dedicação que ela tem pela instituição. Dona Zuleica é uma das integrantes do grupo de dez senhorinhas voluntárias do Caminho da Luz, que atuam na produção artesanal e ministram as oficinas de trabalhos manuais. É fácil perceber na expressão de cada uma o empenho e vigor com que trabalham. Ao entrar no ateliê é impossível não contagiar-se com a alegria e a empolgação de todas.

Participar de projetos sociais é mais que ajudar ao outro, é estar atento para perceber e auxiliar aqueles que não possuem os mesmos privilégios que nós. Utilizando as palavras de dona Zuleica, esse é o tal “reolhar a sociedade”.

  • O curso de informática funciona de segunda a quinta-feira das 8h às 11h e de 13h30 às 17h.
  • As aulas de judô são oferecidas todos os dias.

Instituição Filantrópica Caminho da Luz

Endereço: Av. Serafim Derenze, 11.100 – Bairro Santa Marta

CEP: 29000-000- Vitória – ES

Telefone: (27) 3325-9909 CEL: (27) 8134-6420

E-mail: anamaria@corpus.com.br

Fotos: Thaiana Gomes/ Maíra Mendonça

Edição:  Izabelly Possatto

Trabalhando diferenças, destacando habilidades

Porta de entrada da AMAES

por Any Cometti

Uma síndrome que não pode ser comprovada por meio de exames, mesmo porque ainda não se descobriu ao certo qual é sua causa. O autismo é um distúrbio no desenvolvimento humano que compromete a capacidade do sujeito de comunicar-se e integrar-se à sociedade, e não possui características físicas específicas, como é o caso da Síndrome de Down. Assim, só é descoberto por volta dos três anos de idade, quando a criança começa a enfrentar dificuldades na convivência em comunidade. Sobretudo pela falta de conhecimento sobre essa particularidade, os familiares muitas vezes não tomam os cuidados que se deve ter com um autista.

A AMAES, Associação dos Amigos dos Autistas do Espírito Santo, funciona como um centro de atendimento psicopedagógico a crianças de 6 a 17 anos que têm autismo e/ou Síndrome de Aspenger (considerada o grau mais leve do autismo). Criada em 2001, ocupa hoje um espaço amplo em Goiabeiras, Vitória, próximo à entrada do Bairro República. A associação hoje assiste 22 crianças e é mantida por doações e pelo voluntariado. Esse ano está recebendo a ajuda da Sedu, que recentemente mandou equipamentos e móveis para abertura de salas com melhor equipagem, necessárias para um atendimento mais eficaz  aos alunos. O trabalho desenvolvido pela instituição tem como objetivo incluir o autista na sociedade, apesar de suas restrições. A família também não fica à parte do atendimento. Em toda primeira quarta-feira do mês há um grupo de terapia familiar, para que mães e pais compartilhem angústias, alegrias e troquem experiências. Sônia Maria Raimundo, 33 anos, psicopedagoga da instituição, fala que o atendimento atinge famílias de todas as classes sociais, e que as que têm melhores condições financeiras auxiliam a instituição e aquelas que são menos privilegiadas.

 Uma maneira diferente de lidar

Roseane Ferreira e seu filho, Lucas, atendido pela AMAES

Uma lei define que todo aluno de escolas especiais tem, também, que cursar escolas regulares. Desde que a interação nessa segunda não lhe cause problemas. Mas, como explica Sônia, autistas e esquizofrênicos, por exemplo, nem sempre podem entrar em escolas regulares. Alguns têm hipersensibilidade a sons, são agitados; o barulho de uma escola os incomoda e prejudica ainda mais o convívio em sociedade, e muitas delas ainda não dispõem de profissionais capacitados para atender alunos com necessidades especiais.
Segundo Roberta Kellen Felix Siqueira, 27 anos, cuidadora, o autista tem uma preferência e um gosto padronizado; “Se ele gosta de uma música, como exemplo, só ouve aquela todos os dias, não aceita outra”. Para aproveitar essa preferência, é feito um trabalho de trocas: “pedimos para fazerem algo que não gostam e, em troca, os deixamos fazer algo que lhes agrada”. Várias pessoas os julgam, sem o conhecimento prévio, como crianças mimadas. A questão é que os autistas vivem num mundo próprio, têm uma grande aversão àquilo que não lhes desperta interesse, podem ser agressivos com os outros e até com si mesmos e constroem sua própria realidade.
Um dos trabalhos desenvolvidos pela instituição é o de musicoterapia, desempenhado pela voluntária Sheila Mara de Moraes Souza Alencastre, 36 anos, formada em música e pós-graduada em educação. Sheila diz que a música é usada como meio de relaxamento e de equilíbrio, e que cada aluno tem uma especificidade. Há alunos que compõem e gostam, e é preciso trabalhar esse interesse. “Tem-se de aproveitar todo o potencial de cada aluno, dentro de suas limitações”. Além da musicoterapia, os alunos fazem pinturas, modelagens, atividades físicas, colagens e usam brinquedos educativos, tudo dentro do que cada um consegue e gosta de fazer, sendo previamente avisado, já que a noção de rotina deles é muito bem definida.
Os autistas têm carências em atividades de determinadas áreas, mas são muito avançados em outras. Roseane Ferreira Santos da Costa, 42, afirma que seu filho, Lucas, de 8 anos, atendido pela instituição há 6 meses, tinha muitas dificuldades na alfabetização e aversão aos instrumentos usados nela, como lápis e papel. Hoje ele tem prazer em copiar e escrever. “Ele tinha essa dificuldade, mas sempre soube mexer muito bem no computador”. Lucas é trigêmeo, e a mãe relata que os irmãos percebem que ele é diferente e o ajudam, participando de parte da terapia. Os três irmãos estudam numa escola regular, na qual o tratamento de Lucas é diferenciado. A avaliação, por exemplo, é oral; “Foi uma maneira que encontraram, com a ajuda da neuropediatra, de fazer a avaliação da melhor forma”. Roseane aprendeu a lidar com as limitações, com as habilidades do seu filho e a descobrir um pouco mais dele a cada dia com a Amaes, porque, segundo a mesma, não existe uma receita para cuidar de um autista. “A diferença é que ele precisa confiar: no espaço físico e na pessoa que lida com ele”.

 

*Haverá uma reforma no auditório da instituição, e a previsão é que a inauguração dele seja realizada com uma palestra, aberta ao público, de um grande estudioso do assunto. Mais informações estarão disponíveis em breve no site da Amaes (http://amaesvitoria.org.br/). Além das doações, a associação se sustenta com um bazar, que é mantido por qualquer um que quiser e puder ajudar, por pessoas da comunidade e pelas famílias dos alunos; e pelo voluntariado. Hoje, a associação necessita da ajuda voluntária de fonoaudiólogos, pedagogos e terapeutas ocupacionais. Para entrar na Amaes, é necessário que um responsável leve o aluno, que deve ter entre 6 e 17 anos, para uma avaliação na instituição. Depois disso, é avaliada a necessidade de atendimento e em que turma o aluno pode comparecer e participar.

 

AMAES – Associação dos Amigos dos Autistas do Espírito Santo

Endereço: Av. Fernando Ferrari, 2115
Goiabeiras,Vitória-ES
Cep.: 29075-041
Telefone:(0 27 )3327-1836

Horário de Funcionamento: das 7h30 às 18h

Site: http://amaesvitoria.org.br/
E-mail: amaes@amaesvitoria.org.br

 Edição: Thaiana Gomes

Fotos: Esther Radaelli

Dos bairros aos palcos

por Izabelly Possatto

Alunas do grupo com o professor César Ferreira

Que a Praça Costa Pereira é palco de cultura e arte no centro de Vitória não é novidade, afinal lá se encontra o teatro Carlos Gomes (uma mistura de estilo neo-renascentista com arquitetura inspirada no Scala de Milão, na Itália). O que muitos desconhecem é que esse cartão-postal da cidade abriga a ACES – Ação Comunitária do Espírito Santo, que possui, entre outros projetos, o Pequenos Talentos.

O projeto Pequenos Talentos completa 13 anos em 2010 e apresenta diversos núcleos em bairros da Grande Vitória, como Soteco, Vale Encantado, Vila Nova de Colares, Novo Horizonte, Feu Rosa, Santo Antônio, Centro e em São Benedito, que foi onde começou. Visando democratizar o acesso à dança, professores ensinam os desafios do ballet clássico. Em média, são 300 alunos beneficiados com idade entre 7 e 20 anos. Grandes empresas, assim como leis de incentivo a cultura, mantêm o funcionamento do espaço. Para a coordenadora Luciene Bautz Dalben, 41 anos, nota-se uma mudança no perfil dos alunos ao longo dos anos. Ela relata que há uma disciplina entre os bailarinos e que, apesar de poucos seguirem carreira, há outros trabalhos que absorvem o conhecimento da dança e dos palcos. O Pequenos Talentos visa, em sua essência, formar cidadãos em conjunto com a disciplina e cooperação adquiridos no ballet.

Existem alguns pré-requisitos a serem preenchidos para participar do projeto. O ingresso nas séries iniciais é destinado aos jovens de 7 a 12 anos com renda até meio salário mínimo, que após a avaliação inicial passam por uma seleção em que os mais aptos naquele momento entram. A prova consiste em movimentos práticos que o professor passa com o intuito de julgar o desempenho do aluno, pois infelizmente são poucas vagas para muitas crianças. É importante destacar que por existirem núcleos espalhados em diversos municípios, não há uma ajuda financeira para o transporte. Os núcleos são uma unidade de introdução e aprendizado da dança. Quando experientes há a possibilidade de ingressarem no grupo, que funciona no centro e que representa o projeto em diversos locais de apresentações. Neste caso os alunos recebem benefícios, uma vez que são bailarinos de diversos locais da Grande Vitória. As aulas e ensaios para o grupo acontecem diariamente das 14h às 16h.

Erica e Patrícia, ambas com 17 anos, afirmam o interesse de seguir carreira em boas companhias. Para elas o projeto proporciona amizade, conhecimento e boas viagens, além da dança.


O projeto Pequenos Talentos completa 13 anos em 2010

Fernanda, 15 anos, participa há três anos e optou por tentar entrar no Pequenos Talentos após ver um anúncio naescola. Ela conta que na primeira edição do Passo de Arte aqui no estado, ocorrida no último final de semana, as coreografias apresentadas foram premiadas com 3º lugar em dança contemporânea e em dois trios.

Participar do projeto pode abrir portas para muitos, já que os alunos podem conseguir bolsas em academias particulares. Entretanto, enquanto eles ainda estiverem ligados ao Pequenos Talentos, têm que conciliar ambos, dedicando-se igualmente às aulas e ensaios da escola e do grupo. Atualmente, já existem professores que saíram do projeto e agora são os que transmitem o conhecimento; acabam sendo referência e fonte de inspiração de muitos que começam.

Passo de arte: Competição de diversos tipos de dança ocorrida em diferentes estados do país e que em 2010 teve, pela primeira vez, uma edição no Espírito Santo.

ACES – Ação Comunitária do Espírito Santo

Praça Costa Pereira, 52 – Centro. Vitória – ES

Telefone: (27) 3222-4205

Fotos: Thaiana Gomes

Edição: Esther Ramos Radaelli

A informação que salva vidas

Área de Lazer da Casa Sagrada Família

por Esther Ramos Radaelli

No final da Rua Graciano Neves, Centro de Vitória, existe uma casa. É claro, existem várias. Mas essa é diferente, atende pelo nome de Casa Sagrada Família. Três andares, vários quartos, um amplo espaço e um convívio de muita dedicação.

Em 1995, várias pessoas se reuniram e começaram a visitar crianças que tinham AIDS da área de risco do Hospital Infantil. Porém, perceberam que elas precisavam de ajuda para além das visitas. Muitas dessas crianças ficavam órfãs, já que seus pais eram aidéticos, e foi com esse sentimento de mobilização desse grupo de pessoas que tudo começou.

Contextualizando

O Brasil só iniciou a produção do AZT (um dos remédios que compõem o coquetel que trata da doença), no ano de 1993. E ele só passou a ser disponível na rede pública três anos depois. Sendo assim, na década de 80 e inicio das 90 os aidéticos ficavam a mercê da doença. Se o acesso aos medicamentos era precário, as informações sobre o vírus seguiam esse mesmo caminho. Assim, não existia esclarecimento sobre as formas de uma gestante soro positiva impedir que seu filho também fosse infectado. Foi nesse contexto que aquelas pessoas, que iam levar um pouco de alegria a crianças no hospital, conseguiram criar, em 1 de dezembro de 1996, a Casa Sagrada Família.

Como funciona

A Casa Sagrada Família é uma obra da Missão da Comunidade Católica Epifania (esse termo significa manifestação), ligada à Arquidiocese de Vitória, que possui esse trabalho como uma de suas frentes.

A técnia de enfermagem Fabíola Carla Lopes cuidando de um dos moradores da casa

Funciona da seguinte maneira: o juizado encaminha pessoas, de 0 a 18 anos, que perderam seus pais vítimas da AIDS ou de suas complicações, ou ainda, crianças que possuem pais doentes, em decorrência do vírus, que não tem condição de cuidar de seus filhos. E na Casa Sagrada Família eles recebem todo o acompanhamento necessário. A técnica de enfermagem Fabíola Carla Lopes, 33 anos, é responsável por dar a medicação (antirretrovirais) e por levá-los às consultas mensais do Hospital Infantil, que incluem acompanhamento de infectologistas e profissionais de várias outras áreas. Nesse hospital os medicamentos necessários ao tratamento da doença são fornecidos gratuitamente.

É importante ressaltar que a Casa Sagrada Família é o lar das crianças. Assim, lá elas dormem, se alimentam e possuem vida normal, como a de qualquer criança. Brincam, vão à escola, lêem, se divertem. E quando se machucam, lá está a Fabíola de novo com sua luva para fazer os curativos com os cuidados de higiene necessários.

Porém, além de abrigar 20 crianças, as atividades abrangem também famílias que necessitam de ajuda, seja financeira ou de informações gerais, para lidar com a AIDS. São 85 famílias atendidas. Algumas recebem cestas básicas, outras esclarecimentos sobre as precauções e cuidados que a doença exige e formas de auxilio, como em alguns casos em que ajudaram a reformar casas de pessoas que viviam em condições precárias.

Além da casa no centro existe um outro espaço na Ponta da Fruta que funciona dessa mesma forma e possui os mesmos objetivos.

Todo esse trabalho só é possível graças às doações de várias pessoas, seja de 10 reais, cesta básica ou depósitos de boleto, afirma Edna Conceição de Andrade, 42 anos, coordenadora da casa. Sendo assim, qualquer um que se interessar em colaborar é só entrar em contato. Voluntários também são sempre bem-vindos.

Entrada da Casa Sagrada Família, obra da Missão da Comunidade Católica Epifania, da Arquidiocese de Vitória

Estatísticas

A cada um minuto quatro jovens contraem o vírus em todo o mundo e um menor de 15 anos morre em decorrência de causas provocadas pela AIDS. E em cada dia 1,8 mil crianças com menos de 15 anos morrem por infecções causadas pelo HIV e mais de seis mil jovens, entre 15 e 24 anos, contraem a doença.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Programa das Nações Unidas Contra a Aids (Unaids) constataram que na atualidade menos de 10% das mulheres grávidas portadoras do HIV recebem algum tipo de ajuda que evite a transmissão do vírus para o feto (transmissão vertical).

Se essa gestante não tiver qualquer tipo de acompanhamento durante a gestação, a chance de transmitir o vírus ao filho pode ser de 20%. Porém, se as medidas médicas forem cumpridas, esse número cai para 1%. Essas recomendações são: uso combinado de antirretrovirais na grávida e no recém-nascido, parto cesariano e não amamentação.

O vírus está presente no sangue, secreção vaginal, sêmen e leite materno. Assim as maneiras de transmissão são: sexo oral, anal ou vaginal sem camisinha; da mãe infectada para o filho durante a gestação, na hora do parto ou amamentação; transfusão de sangue, caso o doador esteja contaminado; compartilhamento de instrumentos que cortam ou furam que não estejam esterilizados.

Ação

Se as mães, cada vez mais, tiverem acesso a essas informações, o número de transmissões verticais pode cair drasticamente. Se as pessoas seguirem as recomendações indicadas para evitar o contagio com o vírus, o número de doentes também cairá drasticamente. Assim, atividades como a da Missão Casa Sagrada Família não serão mais necessárias.

Casa Sagrada Família

Rua Graciano Neves, 516 – Centro
Vitória – ES
Fone: (27) 3322-4640

Fotografia: Izabelly Possatto

Edição: Any Cometti

Ser Down

por Maíra Mendonça Cabral e Thaiana Gomes

Durante a gravidez, é comum entre os pais um sentimento de alegria, otimismo e ansiedade pela chegada de seu bebê. Imaginar características físicas, criar a ideia de uma criança ideal e fazer planos a longo prazo podem tornar-se uma decepção quando diagnosticados casos de Síndrome de Down. Tal decepção pode, muitas vezes, influenciar no desenvolvimento dessas crianças, uma vez que seus pais não estão aptos a lidar com essa nova realidade.

Associação Vitória Down

Com a intenção de dar o apoio necessário às famílias e um maior esclarecimento de médicos e profissionais da área de saúde sobre como informar a notícia da síndrome aos novos pais, de modo a não torná-la assustadora, surgiu há doze anos, a associação “Vitória Down”, situada em Jardim da Penha, Vitória. Este projeto é uma iniciativa de familiares e amigos de portadores de síndrome de Down, que visa a inclusão social e luta pela igualdade para os mesmos.

Essa entidade filantrópica, mantida com o auxílio de doações, não realiza um tratamento direto com os downs, já que para isso existem instituições especializadas no Espírito Santo, como a APAE. O grupo de voluntários realiza visitas às casas das famílias e palestras nos hospitais e outras instituições com o intuito de promover maior conscientização sobre a síndrome e como lidar cotidianamente com os portadores, de modo a proporcionar-lhes maior desenvolvimento físico e cognitivo.

Alguns dos projetos realizados são “O Momento da Notícia”, que pretende orientar os pais e estimular a sensibilização dos médicos para dar a notícia às famílias e o projeto “Apoio”, que consiste na realização de palestras em escolas e faculdades, auxiliando estudantes de diversas áreas interessados no assunto. O “Tear” e o “Gente Eficiente”, ambos realizados em 2009, estabeleceram o primeiro atendimento direto com os downs, em que por meio de atividades práticas como aulas de arte, culinária e tecelagem, eram ensinados conteúdos pedagógicos.

Entretanto, de acordo Lisley Sophia Nunes Dias, 47 anos, assistente social e atual presidente da associação, uma das maiores dificuldades encontradas pelo projeto é a falta de comprometimento das pessoas quanto à participação e o pequeno número de voluntários, que tornam o trabalho mais difícil e exaustivo. Lisley, que é também mãe de um portador da síndrome, confessa já ter pensado em fechar as portas da associação, mas sabe da importância do projeto quanto à inclusão social desses indivíduos. “Já passei por muitos problemas com meu filho nas escolas e não gostaria que outros pais passassem pelo mesmo”.

Dona Lecy Flores de Medeiros, 73 anos, mãe de Gilson Flores de Medeiros, de

Dona Lecy e Gilson

38 anos e portador da síndrome diz nunca ter tido problemas para lidar com as limitações de seu filho: “Trabalhamos de acordo com o que ele consegue fazer. O que ele pode nós fazemos, o que não pode, deixamos de lado.” Mesmo assim reconhece que o “Vitória Down” foi fundamental para o desenvolvimento de Gilson em vários sentidos, tanto no aspecto intelectual quanto em sua capacidade de socialização. Hoje, Gilson realiza inúmeras atividades. Ele é ator, dançarino, mágico e artista plástico e já se apresentou em diversos estados brasileiros, somando um total de 26 troféus.

É preciso reconhecer as limitações que os portadores de síndrome de Down possuem a fim proporcionar-lhes um auxílio de qualidade. Mas também é necessário enxergar que tais limitações não os diferem dos demais indivíduos. Trata-se de pessoas comuns, dignas de respeito e que possuem direitos e deveres perante a sociedade. Dar amor, compreensão e ao mesmo tempo impor limites são fundamentais para a construção de um ambiente seguro, que lhes permitirá o acesso a uma melhor qualidade de vida.

Obs: O “Vitória Down” iniciará um projeto chamado “Roda de Conversa” que consiste em uma reunião informal entre os pais de portadores de síndrome de Down para um bate-papo descontraído e trocas de experiências. A primeira reunião ocorrerá no dia 10 de setembro de 2010, às 19:30 h, na Unidade de Saúde de jardim da Penha. O tema debatido será “Sexualidade”. A palestra será ministrada pelo psicólogo Carlos Boechat.

O que é a Síndrome de Down A Síndrome de Down (SD) é uma alteração genética que ocorre no momento da concepção ou imediatamente após. Estima-se que a cada 700 bebês que nascem, um tem SD. No Brasil, existem cerca de 300 mil portadores dessa anomalia cromossômica. Diferente do que muitas pessoas pensam, a síndrome de Down não tem grau maior ou menor, o que realmente existe é uma variação no nível de desenvolvimento motor e no comprometimento mental dos portadores.

Vitória Down Rua Maria Eleonora Pereira, 1111

Jardim da Penha, Vitória, E.S

Cep: 29060-180

e-mail: vitoriadown@ig.com.br

Fotografia: Thaiana Gomes

Edição: Izabelly Possatto

Um Projeto de Todas as cores. Literalmente.

por Any Cometti

Fachada do Núcleo Afro Odomodê

Tem um provérbio africano que diz que “todo aquele que perde suas raízes, morre”. O conhecimento da história e da cultura de seus antepassados é fundamental para a construção da identidade e da auto-estima do ser humano. Em uma casa colorida, ornamentada por grafites, abayomis e mandalas, a cultura afro se perpetua entre pessoas das mais variadas origens. “O Odomodê é de todas as cores”, conta Renata Beatriz Rodrigues da Costa, de 25 anos, coordenadora do local.

A assinatura de um decreto pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 2005, declarou aquele o Ano da Promoção da Igualdade Racial no Brasil. Nesse mesmo ano, um trio elétrico e um grupo de percussão começaram a tocar pelas ruas da Ilha das Caieiras, aproveitando para convidar os moradores a se juntar ao movimento. Em 2006, a partir de uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Vitória, foi inaugurado o espaço físico do Núcleo Afro Odomodê numa área residencial do Bairro Horto, em Vitória. Para a construção de um espaço que fosse “a cara da joventude”, houve uma pesquisa entre projetos sociais de todo o país, sobretudo na Bahia. Lá os organizadores conheceram vários projetos, dentre eles, o Afroreggae, que como o próprio nome diz, também baseia-se na cultura afro.

A identificação do projeto com a juventude vem desde seu nome. A língua Iorubá é a segunda da Nigéria e também nomeia uma etnia africana, a qual pertence a maioria dos negros que foram escravizados no Brasil. Essa maioria influenciou nos comportamentos, costumes e até na língua falada no país. E é da língua desse povo que vem a palavra Odomodê, nome do projeto, que significa tudo o que ele é: Jovem.

Renata Beatriz, coordenadora do espaço

Inicialmente, o projeto atendia aos moradores de Vitória da faixa etária entre os 13 e os 29 anos. Entretanto, como único projeto com esta referência (baseada na cultura afro) no estado, o Odomodê abrigou jovens de vários outros municípios e hoje organiza eventos abertos a toda a comunidade. Além da oficina de percussão, o núcleo oferece diversas outras como a de teatro, que trabalha com a técnica do Teatro do Oprimido, a de canto, de penteado afro e de Break Dance. As histórias dessas manifestações também são ensinadas aos alunos.

Renata Beatriz destaca que o Odomodê tem foco na cultura africana, mas atende pessoas das mais variadas etnias. “Fundamental é estar aqui com a gente, conhecer. Uma forma de combater o preconceito é trazer as pessoas pra perto de nós”. Renata diz ainda que, por meio da arte e da cultura, o projeto trabalha com a assistência social, com o reforço dos vínculos familiares e com a auto-estima dos jovens. “Se eu tenho meu cabelo afro, ou não, mas eu sei qual a minha origem; se eu sei que eu tenho uma origem e que isso tem que ser valorizado e respeitado, passo a me conhecer melhor como sujeito, passo a lidar com a minha autonomia e vislumbrar as oportunidades. Acreditar que eu sou capaz se torna muito simples”.

E é isso o que confirma Reannie Caetano Borges, 23, aluna de Moda e Penteado Afro e membro do Pró-jovem. Reannie diz que entrou para o projeto principalmente pela ligação com a arte e pela aproximação com a cultura de seus ascendentes. Segundo ela, assumir-se negra perante a sociedade ficou muito mais fácil e até sua relação com outras pessoas mudou. “Pra mim é muito importante lembrar que sou negra, lembrar das minhas origens”. Já Sheilane Tiago, 16, aluna de dança, brincou quando questionada sobre o que a fez entrar para o projeto: “Foi minha mãe”. Mas depois confessou que o melhor é preencher seu tempo livre com as atividades e, sobretudo, o conhecimento proporcionado pelo projeto.

Sheilane Tiago e Reannie Caetano Borges, alunas do projeto

Diferentemente de outras propostas de assistência social, que direcionam ao jovem um “pacote fechado” de formação, o Núcleo Afro Odomodê resgata o jovem da situação de vulnerabilidade e dá a ele liberdade para participar das atividades que quiser. Esse livre-arbítrio é uma das condições que mais atraem os jovens ao projeto. Lá, as experiências de cada um são levadas em conta e cada jovem é tido como um ser único. O objetivo não é somente discutir ou ensinar a cidadania. É realizá-la.

Glossário:

Grafite: espécie de desenhos e palavras estilizadas, feitos em muros com sprays ou látex. Diretamente ligado à cultura Hip Hop, o grafite moderno surgiu na década de 70 nos Estados Unidos como forma de expressar toda a opressão social a que o indivíduo desta era está sujeito.
Abayomi: bonecas feitas com amarrações. O nome significa “encontro preciso”. Eram feitas, com as próprias roupas, pelas mulheres e mães de marinheiros, que faziam as bonequinhas para diminuir a saudade, e pelas negras que vinham escravizadas nos navios negreiros com os filhos, para diminuir o sofrimento desses.
Mandala: representação de uma relação entre o ser humano e o cosmo. Originária de uma região da Índia, representa ainda a religião e as divindades daquele povo.
Teatro do Oprimido: prática teatral criada por Augusto Boal, que visa despertar a consciência e a crítica social e conta com a interação da plateia, democratizando o acesso aos meios de produção teatral para as camadas sociais menos favorecidas.
Break Dance: uma dança de origem americana, que surgiu como forma de protesto contra a Guerra do Vietnã e se tornou parte da cultura Hip Hop.

Núcleo Afro Odomodê

Endereço: Rua Areobaldo Bandeira, 4, Horto.

Telefone: (27) 3317-0350

Horário de funcionamento: segunda a quarta-feira, das 8 às 20 horas; e terça, quinta e sexta-feira, das 8 às 18 horas.

Fotografia: Esther Ramos Radaelli
Edição: Maíra Mendonça Cabral Ler mais deste artigo

Uma luz para os olhos de quem vê

por Maíra Mendonça Cabral

Em 1973, foi inaugurado em Vitória o Instituto Luiz Braille que, desde então, passou a realizar um trabalho de dedicação e compromisso com deficientes visuais de toda a Grande Vitória e regiões próximas. Hoje, com 47 anos de existência, esta instituição auxilia 85 pessoas de diferentes idades.

O método de leitura e aprendizado “Braille” foi desenvolvido pelo francês Louis Braille, daí o nome desse Instituto que possui muitas outras filiais, como a de Vitória, em diversas partes do mundo. Trata-se de uma entidade filantrópica, ou seja, é mantida apenas com o auxílio de doações.

O Instituto Luiz Braille fornece um número variado de atividades, que inclui o curso de Braille, aulas de informática (com a utilização do programa de computador “Dos Vox”, sistema operacional que se comunica com o usuário através da síntese de sua voz), aulas de locomoção, fisioterapia e projetos de incentivo ao esporte para deficientes. Em agosto de 2010, a equipe de Judô participou de uma competição em São Paulo, na qual conquistou seis medalhas.

Participantes do Projeto de Incentivo ao Esporte

Ao longo de sua existência a Instituição já passou por algumas dificuldades financeiras e estruturais. Mas, há cinco meses, foi assumida pela “Associação dos Amigos do Instituto Luiz Braille” e passa por um processo de melhorias e reestruturação do local para melhor atendimento das pessoas. Os membros da associação prevêem também a implantação de novos projetos como a retomada dos jogos de futebol de salão e a disponibilização de aulas de arte. Para Solange Maria Rabbi, de 55 anos, voluntária e membro da direção do local, é uma grande satisfação exercer seu trabalho como assistente social, tarefa que pratica há 31 anos. Entretanto, Solange aponta para os inúmeros desafios que os deficientes visuais ainda encontram, tais como a falta de infraestrutura nas ruas, dificuldades de acesso ao serviço público e baixo nível de escolaridade.

Apesar disso, exemplos de superação não faltam. É o caso de Sinvaldo Pereira da Silva, de 35 anos. Ele perdeu toda a visão após ter sido baleado durante um assalto e há 12 anos freqüenta o Instituto Braille. “Para mim o projeto significa tudo. Já conclui o Ensino Fundamental e o Ensino Médio e ainda pretendo fazer uma faculdade”, afirma Sinvaldo, que além de tudo isso, ainda é tricampeão brasileiro de salto em distância.

Dona Marlene: “Deus nos tira uma coisa e nos dá outra”.

É possível encontrar, ainda, pessoas que constituíram uma vida dentro das paredes do Instituto Braille e lá criaram fortes laços de amizade. Dona Marlene Wakuin, de 68 anos e seu irmão Maurício Wakuin, de 73 anos, já chegaram até a morar no local. Ambos são deficientes visuais e guardam antigas histórias sobre a instituição.

É preciso destacar o empenho dos deficientes em vencer os obstáculos que lhes são impostos. Segundo as próprias palavras de dona Marlene “Deus nos tira uma coisa e nos dá outra”. Nesse sentido, o Instituto torna-se um alicerce para o desenvolvimento das potencialidades de cada indivíduo e proporciona um aprendizado mútuo entre deficientes e colaboradores, regido pelo exercício diário da união, dedicação e afeto de uns para com os outros.

Instituto Luiz Braille

Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, 2430.

Bento Ferreira – Vitória – E.S

Cep. 29050.265

Telefone: (27) 3227-1430/ (27) 3315-6389

Foto: Thaiana Gomes  e Maíra Mendonça Cabral

Edição: Thaiana Gomes