Lar doce lar
30 de Setembro de 2010 3 comentários
por Thaiana Gomes
Com o intuito de acolher crianças e adolescentes em risco social, nasceu há nove anos a Casa Lar. Um espaço onde são atendidos meninos entre 12 e 17 anos com poucas chances de reinserção em suas famílias. O local mantém esses jovens fora das ruas e lhes assegura educação e o senso de responsabilidade, sejam elas com a própria casa ou com seus estudos. Esta instituição é uma parte de um projeto maior o “Viva a Vida”. Tal projeto abrange cinco espaços de acolhimento institucional.
O começo
A criação da Casa Lar foi uma iniciativa de dona Eunice Soares de Oliveira, mais conhecida como “Tia Nicinha”, coordenadora da instituição, e do seu marido Luiz Nunes de Oliveira, 62 anos. O casal já morava na casa, imóvel de padres pavonianos, no bairro de Bela Vista, Vitória.
Interessada na causa social dona Eunice, juntamente com o apoio dos pavonianos, transformaram a casa comum em que reside até hoje, em uma casa abrigo. No início não foi fácil. Tia Nicinha conta que, lidar com 12 crianças e adolescentes era complicado.
Hoje com 12 meninos ainda, a Mãe Social do projeto, diz que a Casa é o seu maior orgulho. Mãe de três filhos, conta receber o total apoio deles. Todos ajudam e participam da Casa Lar. Mãe de mais 12 revela sentir imensa felicidade ao ver seus “filhos” bem encaminhados. “Dois fazem estágio, um faz natação, outros três participam do Cajun. Não me vejo mais sem eles.”
A instituição é administrada pela Fundação Fé e Alegria, com recursos da Prefeitura de Vitória e de doações. Esta mesma fundação gere os outros cinco espaços de acolhimento e coordena o projeto “Viva a Vida”.
A Casa
A Casa Lar possui uma estrutura física grande. São seis quartos, cada um com uma suíte. Uma cozinha, um espaço para as aulas de reforço, sala ampla com as paredes coloridas, uma estante cheia de livros e uma televisão, a melhor parte da Casa para Vanilson Soares de Oliveira, 14 anos. O aspirante a jogador de futebol está na instituição há três anos e diz que antes de entrar na casa ficava muito tempo na rua. Fato comum entre a maioria dos meninos.
Em cada quarto da casa dormem dois garotos, eles que ajudam na limpeza e organização do local. Cada um é responsável por arrumar seu quarto, seu guarda- roupa, sempre com a ajuda de uma das educadoras. Elas levam as crianças mais novas à escola, auxiliam na preparação do café, além de oferecerem aulas de reforço escolar.
As refeições da casa são preparadas pelas mãos habilidosas e sempre elogiadas de dona Maria Odete, 48 anos. “Alimentando” o projeto há seis anos, dona Maria conta que no começo os meninos chegam assustados, mas com o tempo se habituam. “Eles me tratam bem, são muito educados e atenciosos. Fico contente com a consideração que eles têm comigo”, afirma dona Odete com um sorriso sincero, enquanto lava a roupa dos meninos, “ é muita roupa…”
Thiago da Silva, 17 anos, está no abrigo há quatro anos e fala do convívio com os outros meninos. Diz que as tarefas são sempre divididas, mas como em toda casa de família, alguém sempre acaba reclamando que faz mais ou que o outro fez menos. Thiago é o mais velho de todos e serve de exemplo para os mais jovens. O adolescente cursa o ensino médio e começou a fazer curso de eletricista. Para ele, a casa foi um grande incentivo aos estudos.
Uma grande família
“Eu me envolvo demais com eles”. Tamanho envolvimento faz Janete compartilhar sua vida profissional com a própria família. A educadora diz que leva os meninos para sua casa, “eles convivem com meus filhos”. O carinho entre as “Mães” da casa- Janete, dona Maria e Tia Nicinha-, e os meninos é recíproco. Entre uma palavra e outra com a entrevistadora, beijos e abraços se tornaram recorrentes entre Janete e os meninos, que se aproximavam curiosos. Nos aniversários sempre fazem festa, as refeições são feitas com todos à mesa sempre que possível, e eles vão à igreja aos domingos. A Casa Lar mantém a rotina de uma casa normal, tentando oferecer aos meninos uma verdadeira família.
Ter consciência de suas próprias atitudes, agir de forma cooperativa com os demais membros da casa, ser responsável e aceitar os limites, esse é o papel dos 12 meninos acolhidos pela Casa e pelas “mães” da instituição.
Não há duvida que quando se trabalha na melhoria da situação desses jovens, dando-lhes a oportunidade de um futuro melhor, estamos melhorando não só a vida deles, como também da sociedade. Sendo assim, é indiscutível a importância desse abrigo, pois segundo dados do IBGE* apenas 24% das cidades brasileiras possuem esse tipo de assistência.
*http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/05/ibge-divulga-dados-sobre-assistencia-social-no-brasil.html
* Pavonianos: Congregação Religiosa dos Filhos de Maria Imaculada fundada em 1847, inspirada no trabalho do Padre Ludovico Pavoni, religioso nascido em Bréscia e beatificado em 14 de abril de 2002.
Casa Lar
Endereço: Rua João Soares, 287, Bela Vista.
Telefone: (27) 3322-3728
Foto: Maíra Mendonça
Edição: Esther Ramos Radaelli